domingo, 16 de outubro de 2011

NÓS E A SOCIEDADE


Dom Sebastião Armando Gameleira Soares *


Nossa Diocese caminha, graças a Deus. Grande é a generosidade do clero e do povo, intenso o sentimento de entusiasmo por “reconciliação, renovação e reconstrução”. Vamo-nos organizando melhor. A Semana Teológica, promovida pelo Seminário –SAET, de 22 a 25 deste, será um marco importante de congraçamento, de aprendizagem, de reflexão e de formulação de novos sonhos. O tema da Liturgia nos remete à Adoração. Ora, Adoração é o centro da vida anglicana e da própria vida cristã como tal. Pela fé e o Batismo temos a vida consagrada a Deus, como “sacrifício vivo” (Rm 12, 1-2). “Liturgia” é exatamente isto: o “serviço do povo”, o povo a serviço de Deus sempre, em seu quotidiano, integralmente, desde as relações econômicas, sociais e políticas, até a religião. O culto nada mais é que a expressão comunitária e pública de nossa vida consagrada a Deus em todos os momentos “profanos” da semana. Se Deus é Emanuel, nada mais é profano. Ao contrário, o que tem a aparência de mais profano, pode ser o mais sagrado. Pensemos, por exemplo, em nossos encontros de amor, em nossos movimentos e atos de luta pela justiça... A Semana Teológica nos ajudará a refletir sobre a relação profunda entre a vida em adoração e os momentos de adoração.

Cada vez mais sentimos intensamente a necessidade de sermos comunidades abertas. Seria contraditório invocar o nome de Jesus sobre nós e formar comunidades fechadas, voltadas sobre si mesmas, gente que só buscasse, de maneira corporativa, a satisfação de suas necessidades religiosas. Seríamos quiçá uma piedosa religião, mas não a Igreja de Jesus. Pelos evangelhos sabemos que a missão de Jesus diz respeito ao mundo todo. Ele veio testemunhar o amor e o cuidado de Deus por todas as criaturas, a começar de nós, homens e mulheres, que somos Sua imagem e semelhança. Por Jesus, Deus nos revela Sua obra universal de redenção do mundo. O chamado a todos os seres humanos é para nos tornarmos capazes de amar para sermos mais felizes.

Parece simples essa vocação. No entanto, é contra isso que resistimos. Somos tão inseguros, imaturos, infantis, que nos fechamos em nós para nos defender das outras pessoas. Como se suspeitássemos de que a própria existência de outrem ameaçasse a nossa. Daí é que nascem todos os desejos desordenados de posse e de poder. Tentamos agarrar a vida só para nós, como criança que se agarra ao brinquedo temendo ficar sem ele. “Ser salvo” é, na verdade, sentir-se livre do narcisismo, do sentimento de apropriação das coisas só para si, da vontade de dominação sobre as pessoas. Ser salvo é ir além da “necessidade” e participar do “reino da liberdade”, é tornar-se pessoa madura, capaz de amar. Passar da imaturidade de requerer atenção e cuidado para a atitude madura de oferecer atenção e cuidado.

No seguimento de Jesus, a Igreja tem de abrir-se a todas as pessoas, de todas as condições, para proclamar essa vocação universal a nos tornarmos seres humanos maduros. Por isso, nossa pregação tem de ser diálogo público; nosso culto é público, de portas abertas, não reservado só a iniciados; nossa presença na cidade tem de ser intervenção no campo dos problemas sentidos pelas pessoas e pelos grupos sociais. A Igreja, como instituição e através de cada qual de seus membros, tem necessariamente uma presença pública, de intervenção social e política na sociedade, mediante serviços de amor, e da luta para transformar estruturas injustas e preservar a vida no universo.

Agora, nossa Diocese abre mais uma janela, na Catedral Anglicana, para se comunicar com a sociedade. São os “Encantos da Catedral”. A cada mês uma programação de arte, particularmente de música e canto. “Tudo quanto respira louve o Senhor!” canta o Salmo 150. Mais um jeito de estarmos presentes no espaço público, enquanto se produz e se contempla a Beleza, reflexo sublime do brilho da glória de Deus.

Parabéns à brava Comissão Diocesana de Comunicação por tão inspirada iniciativa!


* Bispo da Diocese Anglicana do Recife – DAR