Lila Costa
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Não sei como começar a falar sobre um irmão tão querido como Heber. Irmão que não era só nosso de sangue, Heber se fazia irmão de todos aqueles que se aproximavam dele. Independentemente de classe social e nível intelectual, Heber chegava perto, os entendendo e se fazendo entender.
Mesmo morando longe Heber estava sempre presente em nossas vidas, em nossa casa. Preocupava-se com todos e com cada um de nós em particular. Comunicava-se conosco por telefone e por e-mail diariamente, muitas vezes mais de uma vez.
O período de sua doença, nos ajudou e a mim em especial a aproveitar o máximo do convívio, a não perder nenhum momento perto dele. Heber dizia, saia um pouco, você precisa se distrair e disse-lhe muitas vezes: vim para cuidar de você e lhe fazer companhia. Ainda fomos a São Paulo para a reunião de fim do semestre com o seu grupo, do Pós-Doutorado que estava fazendo na PUC: professora Terezinha Bernardo e colegas, estes, dos mais variados estados do Brasil . Cansado, franco, conseguiu ir, fez o que queria, eu não podia deixar de apoiá-lo.
Sei que está sendo difícil não só para nós seus familiares não tê-lo mais conosco, mas para os seus amigos, alunos, colegas de trabalho, vizinhos, funcionários do prédio onde morava. Em cada cidade por onde passou, do Recôncavo ao Sertão da Bahia, estado que adotou como seu, nos últimos 10 anos, Heber fez amigos, conquistou pessoas com o seu jeito muito peculiar de ser. Identificou-se perfeitamente com a Bahia, em especial com Salvador, local que continha muito do seu objeto de pesquisa . E muitas vezes disse brincando: daqui só saiu para Paris, cidade onde morou algumas vezes em férias, quando estudava em Roma. Quando saiu de Aracaju rumo a Salvador, deixou lá amigos tão queridos, que se tornaram irmãos. Em todos os lugares por onde passou ao longo de sua caminhada, no Brasil e fora dele, conquistou pessoas e fez grande amigos.
Heber era uma pessoa extremamente caridosa, em Salvador e em outras cidades da Bahia as pessoas vinham sempre lhe fazer pedidos dos mais variados tipos: empregos para maridos, filhos, exames, consultas médicas, cirurgias, livros, bolsas de estudos, aposentadorias, etc., etc., Heber era muito bem relacionado e nunca deixava ninguém sem o devido pedido atendido. Às vezes comentava comigo veja só, parece até que quem é o baiano sou eu. Tem um amigo de Cachoeira, um poeta que dizia: Sebastião precisamos fazer uma associação chamada PEBA – Pernambuco e Bahia. Heber era assim, viveu para servir.
Heber tinha uma característica ímpar, ele sabia partilhar e interligar os amigos, não era egoísta, a sua rede de amigos é enorme. Fez uma intercessão dos seus amigos conosco, seus familiares, fazendo assim uma grande rede de amizade, uma grande família. Prova disso tem sido a infinidade de telefonemas que temos recebido do Brasil e do exterior. Telefonemas emocionados, cheios de muito amor, dor e pesar. Os e-mails e as mensagens no seu celular são incontáveis. Tudo isso tem servido para atenuar o nosso sofrer, pois sabemos que o que ele semeou, está dando bons e abundantes frutos.
O seu legado intelectual não se perderá no tempo, preocupado com a cultura, escreveu vários livros, 7 ao todo. O seu mais recente projeto, que é objeto do seu trabalho, relatório e que cumiraria na publicação de um livro, do Pós-Doutorado, A CASA DO SAMBA DE RODA DE D. DALVA, em Cachoeira. É uma espécie de museu, onde estão expostas, roupas usadas pelas baianas nas apresentações do Samba de Roda, muitas fotografias, com políticos, governadores, Presidente da República, artistas do Brasil inteiro, turistas, estudantes e o público em geral, instrumentos musicais e até uma loginha. Samba de Roda manifestação folclórica, de matriz africana com mais de 50 anos de fundado, formado por senhoras trabalhadoras na extinta indústria fumageira, que nos intervalos do almoço se reuniam dançavam em círculo e cantavam se refazendo para a segunda jornada de trabalho. Heber envidou esforços no sentido de conseguir junto a Prefeitura, muitos políticos, IPHAN e Secretaria de Cultura, para adquirir um imóvel onde pudesse ser implantando o museu/casa para abrigar todo o rico acervo de propriedade de D. Dalva, 82 anos, fundadora do citado samba. Empreitada sem êxito. Nada disso fez Heber desisti r do seu intento, alugou uma casa, pagando do seu próprio bolso, no centro de Cachoeira, na rua principal, local onde todos que chegam a cidade tem acesso, assim em 22/11/2009 inaugurou a CASA DO SAMBA DE RODA DE DALVA, uma grande festa. É claro que Heber continuou tentando, junto principalmente aos políticos. Aproveitou o período eleitoral, momento propício para se conseguir ajudas. Quando ainda estávamos em Salvador, durante a doença de Heber, um deputado estadual que por sinal não foi re-eleito, atendendo a uma solicitação de Heber, encaminhou-lhe correspondência onde solicitava a documentação da Casa do Samba de Roda, para dar entrada ... utilidade pública. Heber imediatamente se comunicou com a neta de D. Dalva, Anny para providenciasse o mais rápido possível a citada documentação. Não sei quais foram as providencias tomadas por Anny, jovem formada em administração de empresas e que provavelmente dará continuidade ao importante projeto para a cultura não só de Cachoeira, como da Bahia. Agora Heber não está mais aqui para dar continuidade, espero que os órgãos e as pessoas ligadas a cultura se sensibilizem e não deixem morrer tão bonito e rico projeto.
Heber era também sinônimo de alegria, festa, passeios e viagens e visitas aos amigos, quando chegava lá em casa para passar as férias já providenciávamos o roteiro turístico. Sílvio pergunta e agora como vai ser sem Heber? Aprendemos muito com ele e vamos tentar levar a vida como se ele estivesse conosco.
Maria Beatriz nossa sobrinha neta e sua afilhada, perguntou a Lourena sua mãe: mainha tio Heber agora virou uma estrela, por que ele é padre não é? Lourena lhe respondeu: não querida, é porque tio Heber era uma pessoa muito boa e Maria Beatriz disse: então ele vai ser a estrela que vai brilhar mais no céu. Quero que fique logo escuro para a gente ir para varanda e tio Heber poder ver a gente.
Assim ficamos nós, sem Heber fisicamente, mas plenos dele em nossa e olhando para o céu esperando que ele nos veja!
Obs: Imagem enviada pela autora.