Dom Edvaldo G. Amaral SDB (*)
“Haverá santos entre as crianças” – vaticinou Pio X, o papa santo, quando em 8 de agosto de 1910, pelo decreto Quam singulari, estabeleceu que as crianças, chegadas à idade do discernimento, isto é, após os sete anos de idade, na pré-adolescência, poderiam com a devida preparação fazer sua primeira confissão e receber a Sagrada Eucaristia. Na época foi chamada “ Comunhão precoce”.
Já na era romana, tivemos o jovem São Tarcísio, que foi martirizado, enquanto levava escondidamente a Sagrada Eucaristia para os cristãos prisioneiros, destinados às feras, durante a perseguição do imperador romano. O calendário dos santos jovens lembra, no dia 6 de maio, S. Domingos Sávio, santo aluno de Dom Bosco, que faleceu aos 15 anos incompletos. Em artigo recente, já lembrei a Beata Laura Vicuña, aluna das Irmãs Salesianas que, antes de completar 13 anos de idade, sacrificou sua vida para a santidade da vida matrimonial de sua mãe.
Heroínas da virgindade temos muitas. Poderíamos citar, sem mais: Santa Maria Goretti, do começo do século passado, a Beata Alexandrina Dias da Costa, êmula de Goretti, portuguesa, cooperadora salesiana, mística, que ficou paraplégica pelo resto da existência, arriscando a vida, para não perder sua integridade virginal; a Beata Albertina Berkenborg, de Santa Catarina (Brasil),com 12 anos de idade, preferiu ser degolada pelo seu agressor. Ainda no ano passado, tivemos a beatificação da focolarina Chiara de Luce, da Itália, falecida aos 18 anos.
Agora o Papa Bento XVI trouxe à lembrança da Igreja a figura extraordinária de
Santa Joana d´Arc, a “Donzela de Donremy”, como era chamada, que viveu no final da Idade Média e morreu queimada na fogueira, com apenas 19 anos de idade. Afirmou o Papa diante de três mil fiéis, em janeiro último, que um dos aspectos mais característicos de sua santidade foi o “vínculo entre experiência mística e missão política”. A partir dos 13 anos, ela começa a desenvolver a espiritualidade do nome de Jesus, unido ao nome de Maria. Foi aí que se sentiu chamada a intensificar sua vida cristã e a comprometer-se com a libertação de seu povo. Em 1429, começa sua obra de libertação. Em março daquele ano, envia uma carta ao rei da Inglaterra, que assediava a cidade de Orleans, propondo a paz e a justiça, entre os dois povos cristãos à luz dos nomes de Jesus e Maria. Sua proposta é rejeitada e ela começa a lutar pela libertação de Orleans, que acontece sob sua liderança a 8 de maio de 1429. Em 17 de julho, consegue a grande vitória da coroação do tímido rei Carlos VII em Reims. Em 23 de maio do ano seguinte, após grandes vitórias contra os ingleses, cai prisioneira nas mãos de seus inimigos. A Igreja pela hierarquia inglesa e pela Universidade de Paris não a compreendeu; ao contrário, foram os homens da Igreja da Inglaterra, assesssorados pelos doutores de Paris que a condenaram como herege para morrer na fogueira em 30 de maio de 1431. Seu apelo ao Papa em 23 de maio fora rejeitado por seus juízes, seus algozes. Bento XVI citou os dois grandes documentos de sua vida: o Processo de condenação e o processo de nulidade da condenação realizado em 1456 por ordem do Papa Calisto III com cerca de 120 testemunhas oculares de todos os períodos de sua vida.
A “Donzela de Domremy” foi canonizada por Bento XV em 1920 e proclamada patrona da França.
(*) É arcebispo emérito de Maceió.