segunda-feira, 19 de setembro de 2011

ELA DORMIA...


Jacinta Dantas


Gostava de se ler, assim mesmo, em páginas em branco. Pouco tempo se passara desde que adentrou nesse plano e tudo estava para ser escrito. O período era de expectativas: um dia qualquer, num mês qualquer , e, a vidinha no morro, continuava na mesmice de sempre, vivida na sua meninice sem fartura , sem beleza e poucas perspectivas na vida da menina que apenas sonhava com alguém que fosse maior que tudo aquilo, maior que a mediocridade daquela vida de tantos medos. E, de tanto ter medo da fome, engolia tudo que lhe aparecia, inclusive o vento e a presença do outro, sem se dar conta de sua maior fome. Num único dia, pronto, perdeu-se de si, perdeu-se dos sonhos
e...

para fugir da solidão ela dormia, dormia entorpecida, mascarando a dor, mas não queria morrer, queria acordar noutro lugar e encontrar, naquela vida mesmo, o Santo que, alguém lhe disse, mostrava o caminho onde se podia encontrar pão e amor. E mais não teve.Dormiu...
E mais, não sonhou.


Obs: Imagem da autora.