segunda-feira, 19 de setembro de 2011

ODE À SAUDADE


Ina Melo


          Hoje acordei com muitas saudades. Do ontem, de hoje e talvez do amanhã. O que é a saudade, pergunto ao poeta e ele responde: "saudade é dor que dói sem doer, uma dor tão diferente, que a gente chega a sentir saudades da dor que deveras sente." E dos amores? Ah! Que saudades abençoadas, para muitos, a melhor de todas.
          Mas são tantas as saudades que sentimos: Das mãos carinhosas de nossa mãe afagando-nos os cabelos, da cama morna nas frias manhãs de chuva, quem não correu pra ela em criança? Das cantigas de roda, de brincar de academia, da verdadeira idade da inocência. Da amiga querida que partiu cheia de vida e alegria para outra galáxia. O primeiro apaixonamento: Mãos se tocando, corações disparados. Da menina se fazendo mulher. Saudades do amor, esse garboso cavaleiro, príncipe alado, que às vezes nos visita num corcel branco prometendo o céu, mas, em seguida foge, destruindo sonhos e ilusões transformando a chuva fina de primavera em tempestades arrasadoras.
          Quem não lembra da sorridente mocinha vestida de branco, caminhando ao som da Ave Maria, envolta em renda e ilusões? Saudades da emoção maior, quando sabemos que vamos ter um filho e iluminada corremos para os braços do amado. Do pequenino e enrugado ser colocado sobre o nosso peito, transformando o ser mulher em mãe.
          Saudades do amigo, alma gêmea a quem confiamos segredos e esperanças. Saudades do amor fugidio, corpos colados, corações acelerados, mas que a vida teima em separar e a saudade maior, da juventude, entusiasmo, ausência de medos, mergulhos cegos num mar bravio, protestos, irreverências. Saudades até do amor que não tivemos, do beijo que negamos, do sonho que não realizamos. Saudades dos carnavais de ontem, dos pierrôs, das colombinas, lança perfumes.
          Ah! Saudades dos filhos crescidos e soltos na vida que não têm tempo para aquecer o inverno da velha mãe solitária e triste no abandono das casas geriátricas.
          Ah! Mas a saudade maior é a do amor que permanece acesso dentro de nós, queimando, ardendo e alimentando a vida. Recife. Fev/04.


Obs: Imagem enviada pela autora.