segunda-feira, 22 de agosto de 2011

QUANDO TODOS SÃO IGUAIS



Ina Melo


          Uma manhã de verão. O sol inundava o mundo com os seus raios dourados. Os pássaros corriam céleres sobre as flores, beijando-as como galantes cavalheiros. A minha volta paz: O verde, as árvores, o silêncio. Tudo nos fazia respirar tranqüilidade.

          Parada junto ao túmulo onde estava sendo enterrada uma velha amiga, comecei a pensar no grande contraste que é a vida. Que brutalidade é nascer e morrer! Ao nascer o homem vive o seu primeiro momento de violência. Irrompe do aconchego onde esteve durante nove meses para um mundo estranho e hostil. Ali, no ventre da mãe recebe tudo que é necessário para sua sobrevivência, mais chega à hora em que é obrigado a deixar o casulo e enfrentar o desconhecido. É o nascimento: Está exposto ao mundo, à luz, aos ruídos, chora, grita, faz o primeiro protesto, sai do silêncio, berra para dizer que está vivo. Sofre a sua primeira violação. Ao seu redor, todos estão alegres e felizes. Só ele protesta. Não sabe, não entende.

          Diferentemente do que acontece com a morte, o protesto da chegada é o da partida. Dificilmente alguém aceita morrer, deixar à vida e o mundo de prazeres. Os amigos, a família. A violência da partida se compara com a da chegada.

          E ao ver aquela velha amiga ser levada para o desconhecido vem a comparação do nascimento com a morte. Como se parecem esses dois instantes. E como são diferentes. Ao nascer somos festejados, todos estão felizes, riem e choram de alegria. Como é cruel a morte! Por mais que nos queiram bem, nos amem, na hora final ficamos sós! Não existe amor capaz de evitar o desenlace. Aí é que vem a brutalidade do momento, do instante. Depois de longos anos de convivência, vamos deixar aqueles que amamos na terra fria, tendo por companhia apenas do sussurrar do vento e o canto das cigarras.

          Nesta hora, somos todos iguais: O rico, o pobre, o feliz e o infeliz, o branco e o preto, o homem e a mulher. Por que então, não refletirmos sobre esse mundo? Onde não existe nem melhor, nem pior, pequeno ou grande? Creio que aí está a sabedoria divina. Por mais longo que seja o caminho a trilhar, por mais brilhante que seja a vida levada, um dia, vamos estar num mesmo lugar, onde as diferenças não mais existem, e a meta de cada um é encontrar DEUS. Recife/1997.


Obs: Imagem enviada pela autora.