D.Demétrio Valentini *
A semana de orações pela unidade dos cristãos termina neste domingo de Pentecostes. Mas com certeza ainda continuam os motivos de rezar pela unidade dos cristãos. Pois estamos ainda muito longe do objetivo almejado, de chegarmos a uma unidade essencial na mesma fé em Cristo, na legítima diversidade de expressões eclesiais. De tal modo que se chegue a uma verdadeira reconciliação de todos os cristãos, que resulte na acolhida mútua entre as denominações cristãs, formando uma única Igreja, que cultive expressamente a unidade como condição essencial de legitimidade cristã, e ao mesmo tempo estimule a manifestação da pluriforme graça de Deus.
Pois na expressão da fé cristã existe ao mesmo tempo a exigência do singular, em forma de única Igreja, e a legítima pluralidade da manifestação da graça de Deus.
Conciliar o indispensável singular como o legítimo plural é o desafio que se propõe o verdadeiro ecumenismo, que busca a reconciliação de todos os cristãos, como condição indispensável para o cumprimento da missão recebida de Cristo, expressa por suas próprias palavras: “que todos sejam um, para que o mundo creia”.
O despertar da consciência ecumênica teve início entre os anglicanos. Seus missionários na África se deram conta que a divisão entre os cristãos era um sério empecilho para a pregação do Evangelho. Esta preocupação foi levada para a Conferência anglicana de Edimburgo, em 1910, levando a Igreja Anglicana a assumir o compromisso de trabalhar pela unidade dos cristãos. Desta decisão, foi tomando forma o atual movimento ecumênico.
Ele recebeu um grande impulso como a convocação, pela Igreja Católica, do Concílio Ecumênico Vaticano II. A forte conotação ecumênica deste concílio se deu pelo fato de ter sido anunciado num contexto claramente ecumênico. Pois foi lançado na conclusão da “semana de orações pela unidade dos cristãos”, no dia 25 de janeiro de 1958. Desta maneira, todo o impulso de renovação eclesial, desencadeado por este concílio, teve uma clara conotação ecumênica.
A partir do Concílio, a Igreja Católica assumiu o compromisso de buscar a unidade dos cristãos. Isto se constituiu num grande reforço da causa ecumênica. Com a adesão da Igreja Católica ao ecumenismo, o próprio Conselho Mundial das Igrejas Cristãs, constituído anteriormente, acabou recebendo um novo impulso, como instância facilitadora de diversos diálogos suscitados.
Foram constituídas diversas comissões permanentes de diálogo entre algumas denominações cristãs com a Igreja Católica. Entre elas, destaca-se o diálogo com os luteranos, que chegou a um entendimento pleno em torno da questão fundamental levantada por Lutero, sobre a justificação pela fé em Cristo. De tal modo que não existiriam mais impedimentos teológicos a justificar a separação entre as duas Igrejas.
Ao mesmo tempo, a nova relação com os luteranos acabou evidenciando como é lento o caminho da plena reconciliação eclesial. Ela é mais complexa do que a dimensão teológica. Demanda providências de ordem estrutural entre as Igrejas, de tal modo que se efetive a unidade desejada.
Foram muitos os passos positivos, dados a partir do novo clima que tomou forma irreversível com a adesão da Igreja Católica ao ecumenismo.
Ao mesmo tempo, o panorama eclesial foi se complicando, com o surpreendente eclodir de milhares de denominações cristãs, surgidas no seio do pentecostalismo, que vão na contramão da unidade eclesial. Hoje o panorama eclesial, decorrente desta multiplicação de novas denominações cristãs, mais se parece com uma galáxia em frangalhos, do que um cosmos na harmonia de sua diversidade.
Com isto, está posto o desafio, de renovar a proposta ecumênica, levando em conta esta nova realidade eclesial. Uma causa difícil, que precisa ser pavimentada pela abertura de espírito, pelo diálogo, e pelo compromisso de autenticidade na vivência do Evangelho. Como constata o documento do concílio, na medida em que as Igrejas se aproximarem do Evangelho, mas próximas se encontrarão entre si.
O caminho do ecumenismo é, portanto, o caminho da vivência do Evangelho de Cristo.