terça-feira, 20 de outubro de 2009

ENSINO SOCIAL E PROMOÇÃO HUMANA – PARTE I

Luiz Moura
(
lmoura.pe@uol.com.br)


Em 1992 aconteceu na cidade de Santo Domingo, na república dominicana, a IV conferência do CELAM (Conferência do Episcopado Latino-Americana). O CELAM é o mais importante organismo da Igreja Católica no continente. É a nível continental, o que um Concílio ou um sínodo é a nível mundial. Na America Latina já aconteceram três: Rio de Janeiro(Brasil), Medellín(Colômbia) e Puebla(México) sendo os dois últimos os mais importantes. A realização desta conferência em 1992 deveu-se ao fato de que, se celebrava os 500 anos de presença cristã no continente. A V conferência ocorrerá em 2007 na cidade de Aparecida do Norte (S. Paulo – Brasil) com a presença do Papa Bento XVI. Cada assembléia produz em seu final, um documento que tem força de orientação pastoral para ser posto em prática em todo o continente, conhecido como Conclusões ou documento de Puebla ou Santo Domingo.

O documento de Santo Domingo(1992) assume, plenamente, as opções das duas conferências anteriores: Medellín(1968) e Puebla(1979).

Enquanto em Puebla, a opção preferencial pelos pobres é o princípio animador que pervade todo o documento; a promoção humana, em Santo Domingo, exerce a mesma função.

A conferência de Puebla se dá num contexto especial do continente latino-americano: a ditadura militar. Por isso, alguns de seus temas são mais característicos daquela época; é o caso da doutrina de segurança nacional, política e outros. Estes temas não são mais retomados em Santo Domingo, pois se vive agora, no continente, outro contexto sócio-político. A mudança deste contexto não significa a melhoria das condições humanas. A situação do continente pós-Puebla se agravou ainda mais, levando o empobrecimento dos povos a uma situação devastadora e humilhante que chega a extremos intoleráveis. A partir deste lado, aparecem muitas novidades no documento, novidades que não foram contempladas em Puebla. Por exemplo: Reconhece o caráter relativo do termo A. Latina; esta expressão no documento aparece sempre acompanhada do termo “Caribe” (A. Latina e Caribe), ou seja, reconhece a realidade pluricultural e multiétnica do continente. Aqui não existe apenas uma cultura (latina), mas muitíssimas culturas. Este fato se torna importante para as linhas pastorais proclamadas pelos bispos, ou seja, estas linhas pastorais devem ser abertas em direção às diversas culturas. Pela primeira vez, se configura num documento a preocupação pelos aidéticos, a preocupação pelo pagamento da dívida externa. Em Puebla, os bispos assumiram a opção preferencial pelos pobres; em Santo Domingo, já se fala num compromisso com os mais pobres entre os pobres.

Nova, é também, no documento, tanto em sua forma, quanto em seu conteúdo, a preocupação com a ecologia, insistindo, sobretudo, em seus aspectos éticos. São, também, novidades no documento, expressões como: menino de rua, cultura de morte, seqüestro e narcotráfico. Os Bispos são obrigados a reconhecer que a lista dos rostos sofridos assinalados em Puebla é, agora, aumentada.

Outros temas de Puebla são retomados em Santo Domingo, com forma e conteúdo novos. Podemos citar alguns exemplos pertinentes ao tema da promoção humana: direitos humanos, migração humana, terra e cultura.

É muito significativo o gesto de pedido de perdão dos bispos ao povo latino-americano e caribenho, pela infidelidade da Igreja durante 500 anos de evangelização. Este geste aparece também em Puebla, mas não no corpo do documento e sim na mensagem dos bispos aos povos da A. Latina. O pedido de perdão em Puebla, é mais forte, mais incisivo; é quase uma confissão pública.