Djanira Silva
Sentia-se livre, queria partir. Sempre que abria a porta seus braços se estendiam feito asas na direção do sol. Não conseguia andar, não tinha pernas. Amparava-se nas muletas que lhe serviam de asas. À noite, nos sonhos, sentia-se completo. No corpo e na alma as idéias se remexiam feito vermes sob a terra. Os sonhos se tornavam companheiros perigosos, imprevisíveis e enganadores. Iludido pensava que um dia, quando abrisse a porta, poderia voar.
De manhã, sentiu o cheiro bom da terra molhada. A chuva caia fina e fria. Viu-se dançando no gramado, colhendo as primeiras flores da manhã. Molhou o rosto com as gotas de carvalho que se equilibram nas pétalas da roseira amarela.
Enganado pelo pensamento forte e possessivo pensou que era livre. Imaginou-se no topo da montanha. Adormeceu. Nunca mais acordou.
Obs: Texto retirado do livro da autora – A Morte Cega