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Antigamente eu me aborrecia quando o cós de uma saia ficava muito amassado na reentrância da cintura. Agora tenho mais com que me aborrecer.
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Hoje encontrei anotado no verso de uma capa de apostila: “o que é espontâneo vive para sempre”.
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Naquele dia, precisava assistir ao jornal das quatro, que ia transmitir uma entrevista de Cosme, meu colega de turma na faculdade. Nos tempos da universidade, Cosme era um adolescente magrinho, moreno, descendente de índios do Amazonas; meio rebelde, inquieto, de olhos negros puxados. Naquela altura, porém, já se tornara um caboclo barrigudinho de barbas compridas e grisalhas, e exercia o cargo de curador de cinema no Museu de Arte Moderna do Rio. Tinha sido sempre um apaixonado por cinema, que ensinou a várias pessoas, a mim inclusive, o que era um grande filme. Conhecia as técnicas, a teoria do cinema como ninguém.
Cosme foi um de meus maiores amigos do tempo de juventude. Esteve preso durante a ditadura, protegeu muita gente e seus amigos o adoravam. Não seria justo deixar de vê-lo naquele dia. Porque talvez ele não vivesse muito mais. Porque talvez eu não tivesse muito mais para viver. Um mês depois recebi a notícia de sua morte.
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Tudo que se consegue saber do futuro com relativa certeza é o que a meteorologia prevê. O que é bem pouco, tendo em vista o percentual de erros na previsão do tempo.
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O mais alto a que consigo chegar é quando procuro de todo coração entender alguém. Nesses momentos me sinto no nível dos cristais de chuva.
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Deve-se perder o presente em nome do futuro?