domingo, 6 de novembro de 2011

SOLIDÃO


Odete Melo de Souza *


          É comum pensar que a pessoa idosa tão contemplada por Deus, confiando-lhe missões especiais, a exemplo de Abraão, Moisés, Noé, está destinada ao isolamento, à SOLIDÃO.
         Desaparecem os entes queridos, os filhos se casam, vão embora e o idoso fica sozinho em casa. Isto é uma realidade incontestável a se repetir continuamente.
         É cruel, é doloroso, é simplesmente injusto e desumano o tratamento dispensado muitas vezes ao solitário, seja idoso, adulto ou jovem.
          Se jurista fosse, enquadraria entre “os crimes hediondos” este impiedoso comportamento.
          Há ainda os que moram sozinhos motivados por casamentos desfeitos, separações ou solteiros que espontaneamente optaram por esta situação.
          No Brasil e em outros países é grande o número de casas e apartamentos com um único morador. Este aponta vantagens neste seu viver isolado, como não ser incomodado por ninguém, ficar à vontade, mas teme não ter quem o ajude na doença e na velhice. Eis uma desvantagem...
          A SOLIDÃO é um dos sentimentos mais temidos pelo ser humano.
         A SOLIDÃO, enfim, é um estado de espírito. A pessoa pode se encontrar entre muita gente e sentir-se só, desde que não haja entre os presentes comunicação, um bom relacionamento, diálogo, partilha, amizade, confiança e estar fisicamente só e sentir-se acompanhada, quando sua mente está cheia de bons propósitos, desejo de fazer o bem e o seu corpo em ação, trabalhando, amando. Neste caso, a SOLIDÃO não encontra espaço naquela casa, naquela pessoa, naquela vida.
          A inatividade é realmente a única responsável pela mal da SOLIDÃO.
          Há sempre muito o que fazer dentro e fora de casa.
          Se o idoso ou qualquer pessoa sozinha é ainda privilegiada com a capacidade de locomoção, que vá ao encontro do mais necessitado.
          Necessitado não significa sempre o pobre, o miserável a quem falta todos os bens materiais.
          Muitas vezes, o necessitado é aquele que usufrui de todo conforto físico, mas precisa do carinho, afeto e sobretudo da alegria de alguém que o escute.
          ESCUTAR é uma das mais difíceis e gratificantes atribuições humanas.
           E, assim, conforme o magistral Dom Hélder Câmara, “ninguém é tão pobre que não possa dar alguma coisa, e ninguém é tão rico que não precise receber alguma coisa.” Não precisa ser muito rico, ter grande fortuna para poder ajudar o irmão.
          Todos precisam de todos!...
          Enfim, a amizade e o espírito comunitário são eficazes antídotos contra o terrível fantasma do século que vem atingindo idosos, adultos, jovens e toda a humanidade – A SOLIDÃO.
          Esqueçamos a SOLIDÃO!... A SOLIDÃO NÃO EXISTE!...


* Autora do livro - Retalhos do Cotidiano.