Ronaldo Coelho Teixeira
No início deste ano pipocou nos meios de comunicação matérias acerca do combalido mercado editorial brasileiro. E tudo porque em março aconteceu na capital paulista, o Fórum de Leitura e o Plano Nacional de Livro e Leitura. E também porque ambos aconteceram dentro da grande vedete da literatura brasileira: a 19ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo.
Embora uma parte delas tenha acertado sobre o crítico quadro das poucas livrarias e bibliotecas existentes e do preço sempre alto do livro, a maioria derrapou ao esquecer dos dois importantes – senão principais – fatores que traçam esse tão nocivo painel: o velho e postergado problema da educação e a questão da má distribuição de renda.
Com relação à educação, todo mundo sabe que o brasileiro é educado para não ler. Não há uma metodologia que encante e atraia o aluno para o prazer da leitura, desde o início da alfabetização até o ensino fundamental. E, quando chega ao médio, o aluno, geralmente despreparado, topa com um livro paradidático que o deixa traumatizado com a leitura pelo resto da vida. Não é à toa que quando chega o vestibular, a prova de redação é quase sempre aquele bicho-de-sete-cabeças. A nossa escola segue, quando muito, formando identificadores de palavras e não leitores, quanto mais decifradores de entrelinhas! Porque quem passa a vida inteira no decoreba nunca poderá pensar. E a leitura, no mínimo, exige isso.
No aspecto financeiro, um país no qual 10% dos mais ricos detêm 50% da renda enquanto que 50% dos pobres detêm apenas 10%, segundo dados de 1999 do IBGE, não pode mesmo pensar, muito menos querer, ser um país de leitores. Nesse quadro, ter que desembolsar de 10 a 30% do salário para adquirir um livro, é, no mínimo, surreal. E é devido a essa má distribuição de renda que o Brasil apresenta este esdrúxulo número: 1,8 de livros é o que o brasileiro lê durante um ano. E mesmo que este seja um dado contestado por boa parte dos estudiosos do assunto, ele não deixa de parecer tão real, no país do futebol, da cerveja e do carnaval.
Por isso, de nada adianta falar em democratização do acesso ao livro; em fomento à leitura e formação de leitores; em valorização da leitura; e em comunicação e apoio à economia do livro, sem se atentar para os reais vilões da questão. Aliás, um dos nefastos vícios na história do Brasil: utilizar paliativos para resolver os problemas, sem atacá-los diretamente.
No meio empresarial diz-se que quando uma empresa não quer fazer nada, faz reuniões. Trazendo este jargão para a gestão federal, tudo indica que os governos brasileiros quando nada querem fazer, lançam planos. E o Plano Nacional de Livro e Leitura parece ter sido a “reunião” da vez.
Obs: Texto retirado do livro do autor – Surtos & Sustos