terça-feira, 29 de novembro de 2011

JACARÉ CAOLHO

José de Alencar Godinho Guimarães (*)


          Esse fato se deu no Rio Curuá-Una na localidade de Castanheira. Eram três amigos que vez ou outra arrumam as tralhas e saem para pescar, tomar birita, rir bastante e esquecer um pouco a rotina da vida de trabalho.
          Armaram as malhadeiras durante o dia e já haviam pescado bastante peixe, mas o divertido é sair à noite para pescar de Zagaia – haste de madeira com três bicos de aço – e quem sabe ter a sorte de matar um jacaré.
          Saíram com esse propósito e após alguns minutos de conversa e risadas por conta dos peixes que não conseguiam acertar com a Zagaia, eis que o pescador da proa da canoa focou com sua lanterna em direção a uma pequena ilha e avistou um provável jacaré. O piloto da canoa mudou a trajetória da viagem e o proeiro pegou a espingarda para fazer o disparo no bicho.
          Como a canoa estava longe do animal, tiveram tempo para fazer suposições sobre o jacaré que parecia estar imóvel a observá-los e a cada remada a brasa se mostrava maior e mais perto é claro. O estranho era que os três percebiam que o réptil estava fora d’água. Então o piloto da canoa começou a desconfiar da coisa e afirmou em alto e bom tom que em mais de vinte anos morando naquela região jamais tinha visto um jacaré caolho, pois no fogo da lanterna só era possível identificar uma brasa e não duas como de habitual quando se foca em um jacaré.
          Estavam os três amigos nessa conversa quando a canoa encalhou em terra e o proeiro nervoso para atirar, procurou uma posição melhor para visualizar a cabeça do animal quando um bacurau, ave noturna e de olhos esbugalhados, saiu voando. Foram uns cinco minutos de risos incontroláveis.
          Já pensou, os três esperavam ver um jacaré e surgiu um bacurau. É para rir mesmo. E ainda se confirmou que o piloto da canoa, realmente, conhece o que é o olho de um jacaré no fogo da lanterna.


(*) Professor da Rede Pública Municipal de Santarém
Graduado Pleno em Pedagogia pela UFPA