Marcelo Barros(*)
Nestes dias, a opinião pública foi inundada por reportagens e reflexões sobre o décimo aniversário dos atentados de 11 de setembro nos Estados Unidos. As emissoras de televisão nos mostram novamente as torres gêmeas sendo atingidas por aviões e as pessoas gritando de pavor nas ruas de Nova York. É pena que nenhuma reportagem ajude o povo norte-americano a se rever e a descobrir os vírus de intolerância e violência que proliferam nos Estados Unidos e criam condições mais fáceis para tragédias como aquela. Infelizmente não somente esta revisão não é feita, como, ao contrário, aquele ato terrorista forneceu o pretexto para o governo dos Estados Unidos jogar fora a máscara de democracia, desrespeitar normas da ONU e invadir países asiáticos, ricos em petróleo. Ele substituiu o terrorismo de grupos fanáticos por um terrorismo oficial, elevado à categoria de política de Estado e usado para insuflar o medo coletivo e justificar arbitrariedades jurídicas e guerras.
Desde 2001, vários cientistas têm afirmado: atualmente, a maior ameaça para a humanidade não é o terrorismo. É a destruição do próprio planeta em que vivemos. As mudanças climáticas e desastres ambientais estão provocando dez vezes mais mortes e destruições do que quaisquer atentados terroristas. Ou mudamos esse modelo de desenvolvimento predatório ou não teremos futuro. É urgente buscar alternativas a esta civilização predominantemente mercantilista e combater corajosamente a exploração não sustentável dos recursos naturais, da força de trabalho humano e do patrimônio cultural de toda humanidade.
Na semana passada, o 17º Grito Nacional dos Excluídos denunciou: no Brasil, segundo dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), foram encontrados agrotóxicos em quase todos os alimentos que vão à nossa mesa. O tomate apresenta 27% de agrotóxicos, o arroz de cada dia, 24%. O pimentão chega a concentrar 80% de veneno. Desde 2009, o Brasil é o maior produtor de agrotóxicos do mundo. São 5, 2 litros/ano por habitante. A expansão do modelo de produção agrícola que visa o agronegócio e a exportação é responsável pelo desmatamento de nossas florestas, envenenamento dos alimentos e contaminação da população. Nenhum ato terrorista é tão grave quanto essa indústria de enfermidades para a humanidade e para todo ser vivo. A aprovação do novo Código Florestal provocará um aumento do desmatamento, a suspensão de multas e penalidades para quem cometeu crimes ambientais e as áreas de preservação serão diminuídas.
Seja como for, temos mil motivos para esperar no futuro. Em toda a América Latina, está ocorrendo um novo protagonismo de movimentos sociais, em diálogo com as culturas indígenas e negras, assim como com mobilizações surpreendentes da juventude mais consciente.
Em uma de suas cartas, São Paulo diz que toda a natureza (a criação) sofre como dores de parto. Diz ainda que nós, seres humanos, recebemos as “primícias do Espírito”, isto é, o amor divino para nos transformar interior e socialmente (Rm 8, 22- 23). Essa energia está em nós como primícias, isto é, semente a ser cultivada e desenvolvida por uma forma solidária de viver. Ela se expressa nas relações de ternura com os que nos são próximos e na solidariedade a toda pessoa que sofre. É como uma bússola interior que torna possíveis as melhores esperanças da humanidade e pode garantir: o mundo está salvo.
(*) Monge beneditino, teólogo e escritor.