segunda-feira, 19 de setembro de 2011

ESPÍRITO DA MATA


José de Alencar Godinho Guimarães (*)


          Um velho Senhor, cidadão caboclo, acostumado aos prazeres da caça e da pesca, carrega consigo os mistérios da Amazônia. Isso que passo a relatar aconteceu em Boa Esperança, Município de Santarém no Estado do Pará.
          Eram três pessoas com o velho Senhor caçando à noite e ainda não passava das 21h quando o velho andando na varrida – caminho aberto na mata para a prática da caçada noturna e ganha este nome porque o caminho é varrido para que os caçadores não façam barulho ao caminharem – percebeu o caminhar de uma Paca que se aproximava com certa velocidade. Imaginando que a Paca já estava ao alcance do fogo da lanterna, o velho acendeu seu equipamento luminoso com a espingarda também já preparada para fazer o disparo e abater tão cobiçada caça. E foi o que aconteceu, ele efetuou o disparo acertando o animal que apenas pulou e caiu no meio da varrida se debatendo. O velho trocou o cartucho e fez novo disparo para se certificar da morte do indefeso roedor.
          No entanto, a Paca continuou a se debater e com ares de quem estava querendo correr. Como dessa vez o cartucho havia ficado preso na espingarda o velho decidiu matar o animal a cacetadas usando a própria arma de fogo, mas ao preparar o golpe e fazendo esforço para acertar o bicho ali caído e todo ensangüentado, algo muito estranho aconteceu. Alguém segurou a arma evitando o golpe.
          O velho Senhor, pelo que se sabe dele, não é nem um pouco medroso, mas diante dos fatos largou a espingarda e saiu correndo à procura de seus companheiros. Relatou o ocorrido e todos se dirigiram ao local do acontecido onde não encontraram a Paca, somente as marcas de sangue e a arma suspensa no ar, presa a um cipó de espinhos grandes e recurvos, conhecido como Unha de Gato. Aí já se pode imaginar o que aconteceu. Gargalhada geral!
          Porém o mistério continuou, pois se vocês bem lembram a Paca sumiu após ter levado dois tiros, e olha que o velho não costuma errar seus alvos, a prova disso era o sangue no meio da varrida.


(*) Professor da Rede Pública Municipal de Santarém
Graduado Pleno em Pedagogia pela UFPA