segunda-feira, 29 de agosto de 2011

MENINICE



José de Alencar Godinho Guimarães (*)


       Ainda rapazote, tive o privilégio de desfrutar das coisas boas de Santarém. Roubar caju nas residências ricas da Maracangalha, saborear as mangas da Vera-Paz, juntar cutite na SUDAM e pular o muro do Cabral para matar aulas. Tempo bom e, como bem afirma Chico da Silva, “que não volta nunca mais”.

       Mas como nem tudo é maravilha, sofria em ter que levantar de madrugada para ir pescar na companhia de meu falecido avô. Por vezes, fingia estar em sono profundo, mas o velho nem sempre engolia tal estratégia e saíamos para as pescarias de tarrafa no Lago do Mapiri. Nunca entendi o porquê dos netos terem que se submeter a esse sofrimento quando deveriam estar dormindo o melhor do sono humano. E isso sempre piorava quando a madrugada estava chuvosa. Um verdadeiro martírio, mas era a forma de se colocar alimento farto na mesa.

       No entanto, nisso tudo havia um pouco de aprendizado de vida. Aprendi a dar valor às coisas do dia-a-dia e cresci acreditando que poderíamos sempre desfrutar da natureza sem que ela pudesse ser agredida pela ação humana. Engano meu. Hoje vejo a Amazônia pedindo socorro, agonizando.


(*) Professor da Rede Pública Municipal de Santarém
Graduado Pleno em Pedagogia pela UFPA