domingo, 7 de agosto de 2011

FIM DE TARDE NA PROVENÇA


Ina Melo


          O trem corria veloz deixando para trás os campos perfumados de alfazemas. O sol pintava as nuvens num imenso painel de cores “dégradé”. A mulher com os olhos presos pelas cortinas dos cílios sorria serenamente. As mãos entrelaçadas abandonavam-se sobre o colo.

          Lá fora a paisagem de uma quase primavera inundava os campos de luz. Sentado à sua frente, com o jornal cobrindo parte do rosto o homem não conseguia deixar de olhar para ela. Silencioso levantou-se e saiu.

          No corredor, seguindo a cadência do trem pegou um cigarro colocou nos lábios, mas não o acendeu. Entardecia e o céu cobria-se de vermelho. Logo estariam chegando à Aix-Provence. Pensando como fazer para iniciar uma conversa com a misteriosa mulher, ele resolveu acender o cigarro. A fumaça enrolou-se no ar deixando um agradável odor.

          A porta se abriu e uma lufada de perfume invadiu o corredor. Um cheiro de terra misturada com lavanda penetrou-lhe às narinas numa doce e sensual mistura. A mulher, com os lábios entreabertos pediu que lhe acendesse a cigarrilha. Almíscar e ópium, desejo e pecado, foi o que deduziu quando se aproximou. A chama do isqueiro subiu alta e ele pode ver bem de perto os belos olhos que o fitavam. Audaciosamente pegou-lhe as mãos e as beijou. Entraram na cabine. Ela com o mesmo sorriso não reagiu, apenas aspirou com força à cigarrilha como se desejasse desaparecer na fumaça. Logo estavam abraçados, numa fúria incontida de desejo.

          Trancando a porta com rapidez, deixou-a nua da cintura para baixo e começou a beijar-lhe o ventre. Estática a mulher não reagia, apenas vibrava tal qual um violino tocado por mãos divinas. Ele não sabia como conseguira em tão pouco tempo tirar a roupa. Ajoelhado, louco de prazer, ao levantar os olhos viu uma beleza mágica. Os seios duros de bicos rosados apontados para ele como a pedir que os beijasse. Não se fez de rogado. Aproveitou tudo até chegar aos lábios carnudos e doces da mulher que parecia uma vestal em noite de luxúria. Nua e linda, ardente e sensual. A viagem seguiu no lento balançar do trem e ninguém mais viu nem se interessou pela bela paisagem de um fim de tarde na Provença. Out/2009.


Obs: Imagem enviada pela autora.