segunda-feira, 29 de agosto de 2011

CRÔNICA DE PARIS (Fim do Século XX)



Ina Melo


       Hoje, 31 de dezembro de 1999 estou o Café de Flore em St.Germain de Pres. Chove e faz muito frio. A cidade está um caos. Arvores caídas, telhados arrancados. Vim realizar um sonho: Passar o Reveillon do Século em Paris.

     Gostaria de ter vivido na “Belle Époque”. Penso que seria mais romântico, mas Paris é sempre Paris. Amo demais esta cidade e tenho como propósito de vida um dia morar aqui. Sei que não será fácil, mas sou muito corajosa e ainda tenho tempo.

       Faz exatamente 23 anos que aqui estive pela primeira vez. Fiquei no Hotel Cayré, no Blv. Raspail. Acabei de passar por ele. É o mesmo. Nada mudou. Apenas a mulher envelheceu apesar dos sonhos continuarem jovens.

       Sei que Paris é uma cidade muito cara e cada vez sinto a pobreza do meu País que, infelizmente, não existe para o Europeu. Observei na Itália, que o Caribe existe, as Ilhas Malvinas existem e cadê todo aquele potencial de sol e mar que temos no Nordeste? O que faz o Governo, que vive mandando pessoas às nossas custas para vender o Brasil turisticamente e nada, nada de Brasil. Um grande silêncio e muitas interrogações???????

       Estou num dos pontos mais tradicionais da cidade: St. Germain de Près, bairro favorito dos intelectuais e artistas. Grandes momentos da literatura e das artes foram vividos nestes Cafés. Se fecharmos os olhos e fixarmos o pensamento, quem sabe não estaremos juntos com Picasso, Sartre, Simone de Beauvoir e muitos outros. Aqui se vive uma grande história. Como o francês tem memória!

       Ontem fui visitar a Exposição de Proust e fiquei impressionada com os detalhes da vida do escritor. Balzac e Proust fizeram o retrato de Paris e da sociedade neste século. Quem será que no terceiro milênio irá descrever com tantas minúcias a Paris de amanhã? Para mim tudo é conhecido. Será que vivi outras vidas nesta cidade? (uma coisa interessante de observar: Estou sempre feliz). Nada é difícil. Para mim é sempre uma festa, como dizia Hemingway. Eu não sou mulher de fazer compras, mas aproveito muito bem o que a cidade tem para oferecer: Vou ao teatro, Ópera, bons restaurantes, onde me delicio com ostras e vinho branco.

       Nesta época, quando se comemora o fim de milênio, e tudo é mais caro. Ainda assim, amo esta cidade. Um dia quem sabe, terei um amor real em Paris? Será que ainda é tempo? Dizem que o coração não envelhece e isto eu posso atestar. O meu está jovem e cheio de amor, no momento, por Paris.PARIS JE T’AIME. (Esta crônica foi escrita num frio inverno parisiense em (31/l2/1999).


Obs: Imagem enviada pela autora.