D. Demétrio Valentini *
Se há uma pastoral que chegou em boa hora, é a “Pastoral da Pessoa Idosa”. Como convém a adultos, ela nasceu andando: foi assumida pela falecida Doutora Zilda Arns. Ao passar para outros a coordenação da Pastoral da Criança, abraçou com vigor de jovem e com experiência de veterana, a causa das pessoas idosas.
Sábia e experimentada com a importância de cunhar um nome emblemático para a nova pastoral que estava surgindo, a Doutora Zilda não embarcou na artificialidade de algumas expressões que parecem traduzir constrangimento diante do envelhecimento humano, falando em “melhor idade” ou “terceira idade”. Ela preferiu o jogo aberto e franco da “pastoral da pessoa idosa”. Ter idade não é desdouro, não é vergonha, não é desgraça.
Ao contrário, chegar à velhice é um privilégio, uma conquista, uma vitória pessoal e uma graça para a família e para a sociedade.
Para que isto aconteça, a Pastoral da Pessoa idosa se propõe realizar um trabalho de apoio, de organização, e de clima favorável à acolhida e valorização das pessoas idosas.
Os resultados são surpreendentes. Há muitas pessoas idosas que passaram a se assumir melhor, tomando os cuidados indispensáveis para a saúde, assimilando práticas de exercícios que vão mantendo o corpo sadio e o espírito alerta e disposto a administrar a própria vida.
O calendário litúrgico, há muito tempo, escalou dois padroeiros de primeira linha para as pessoas idosas. Nada mais e nada menos do que São Joaquim e Sant´Ana, os pais de Maria, e portanto, os avós de Jesus. Com a Pastoral da Pessoa Idosa, até eles passam a merecer um destaque maior na divulgação dos seus nomes, e da missão que a Igreja lhes atribui, como patronos das pessoas idosas. A exemplo dos dois santos, os idosos também podem expressar gratidão pelos anos vividos, pela missão cumprida, e pela confiança diante do futuro, com a serenidade que Joaquim e Ana inspiram e infundem.
Mas a Pastoral da Pessoa Idosa não esconde problemas sérios que o aumento da população adulta deixa entrever. A demografia comprova, de fato, que a faixa etária dos sessenta para cima, vem aumentando expressivamente. Até pouco tempo atrás se dizia que o Brasil era um país de jovens. Agora já não é mais. Os idosos vão marcando uma presença sempre maior.
Isto se deve, em parte, ao fato evidente da aumento da duração da vida humana. Vivemos mais tempo, e isto é muito bom, é uma boa notícia que deveria levar a todos a se prepararem para uma velhice digna e feliz. A média de vida, no Brasil, passou rapidamente, dos sessenta para o setenta anos, atingindo agora já a cifra de aproximadamente setenta e três anos.
Mas o expressivo crescimento proporcional das pessoas idosas se deve também à rápida, e preocupante, diminuição da natalidade na população brasileira. A queda foi brusca e generalizada, em todas as regiões e contextos da população brasileira, demonstrando ser irreversível, o que a torna mais preocupante ainda.
A população brasileira está perdendo vitalidade. E´ preciso dar-nos conta deste fato, para perceber a importância que tem a família, e o apoio que a sociedade e o estado lhe devem.
Diante deste fato se relativizam outras reivindicações, mais espalhafatosas e inócuas. Quem merece nosso apoio são as famílias, capazes de nos dar a alegria de vidas novas, que garantam o futuro deste país, tão pródigo em recursos vitais, ameaçado de carregar o estigma da infertilidade.
No Brasil há lugar para as pessoas idosas. Mas se faltam as crianças, todas as outras faixas etárias ficam comprometidas. Até porque a alegria maior dos vovôs é transmitir carinho aos seus netos.