domingo, 17 de julho de 2011

O QUE FOI FEITO DA JUVENTUDE?


Djanira Silva


       Quem viveu as décadas de cinqüenta e sessenta, pode dizer que viveu mesmo. Foram portas que se abriram e revelaram as maravilhas de um mundo, apenas pressentido. Havia romantismo, amor, encanto e mistério, até em se fazer um vestido para ir a uma sessão de cinema.
       As mulheres usavam luvas e meias. Os sapatos combinavam com bolsas e cintos. Os rapazes de terno e gravata, e, em certos cinemas, não entravam sem paletó.
       As matinês do S. Luís eram o ponto de encontro dos casais de namorados. Gente bonita, alegre, bem vestida, preocupada apenas em estudar, namorar e ser feliz.
       Namorar “no escurinho do cinema”, ai que coisa boa. Quantas vezes saíamos de lá sem sabermos do enredo do filme. Suplício de uma Saudade, assisti mais de uma vez. Uma para namorar, outra para saber da história e contá-la em casa. Tudo cercado de romantismo, mistério e o encanto das coisas proibidas.
       Passeávamos pelas ruas e avenidas. As vitrines das lojas exibiam as novidades da moda. Os casais sentavam no gramado ao redor do rio, e os mais afoitos namoravam protegidos pelas sombras das árvores.
       Foram décadas de belas músicas, de belas roupas de belos filmes. Filmes, como Suplício de uma Saudade, Um Fio de Esperança, O Homem do Braço de Ouro, O Terceiro Homem e tantos outros que, inclusive, possuíam uma trilha sonora inesquecível.
       As mulheres eram naturalmente vaidosas e se preocupavam com a aparência. Jovem era jovem, velho era velho. Cada um vivia seu tempo, sem pressa e sem angústia. Os mais velhos eram respeitados sem necessidade de se recorrer às leis. Entrava-se na maturidade com orgulho e dignidade, sem que para isto houvesse necessidade de se apelidar a velhice de terceira idade, boa idade, melhor idade.
       O tempo não corria como hoje. As horas passavam devagar, horas bem vividas e aproveitadas.
       Costuma-se dizer que o melhor da festa é esperar por ela. E, naquele tempo, era verdade. A alegria estava na expectativa, coisa que hoje já não existe. Tudo girava em torno dos preparativos. Muita coisa proibida. Não havia as liberalidades de hoje. Muita repressão, tudo temperado com o prazer da desobediência que tornava mais feliz e felicidade.
       Festas anunciadas, vestidos na costureira: longos, largos e coloridas estamparias. Orquestras tocando foxes, blues e boleros, e as noites curtas para tanto amor.
       Hoje, meu Deus, o mundo virou de cabeça para baixo. Um amigo me confessou estar assustado com o comportamento da neta. Nunca sabe quando ela está dormindo ou acordada. Anda pela casa se arrastando feito uma preguiça. Engravidou e não sabe se é do namorado ou do amigo do namorado que atende pelo nome de Zé. Passou no vestibular sem saber pra quê.
       Como salvar esta juventude sem rumo, saída de uma infância que também não foi lá grande coisa, cheia de medos e sem perspectivas de um futuro melhor?
       Crianças à procura de empregos, sem condições de estudar por falta de meios, e que, geralmente, perdem-se nos caminhos das drogas e da prostituição.
       Quem foi que estragou o mundo?


Obs: Texto retirado do livro da autora – Deixe de ser Besta.