Ronaldo Coelho Teixeira
A palavra tem sido a chave-guia do homem através dos séculos. O seu mistério vai muito além desse entendimento cristão que recebemos. E se não é o exclusivo fator que define os seres racionais, ao menos é a única forma que projeta o abismo entre o homem e os animais, e o torna um ser dotado de razão.
Na história humana, há uma incontável gama de momentos históricos em que ela desencadeou cruzadas espirituais, guerras e carnificinas, degradando ao mínimo o que seja ser homem por um lado, mas, por outro, elevando-o a condições altamente dignificantes.
Em tempos nos quais ela encontra-se tão desacreditada, em face do seu constante e abusivo mau uso, vilipendiada por tantos, principalmente pelos políticos, vale a pena resgatar a sua real importância. Afinal, Michel de Montaigne já dizia que “apenas pelas palavras o ser humano alcança a compreensão mútua”. Por isso, aquele que quebra a sua palavra atraiçoa toda a sociedade humana.
Ainda mais numa era midiatizada como a nossa, quando os meios de comunicação desenvolveram-se tanto que muito mais se fala do que se escuta, resultando num caos comunicacional. Esquecemo-nos que a palavra dada é, em si, uma promessa e toda promessa é um compromisso, este que faz com que a pessoa que o recebeu espere pelo cumprimento do mesmo.
Por isso, se alguém, seja para fazer-te um favor ou saldar-te uma dívida chega a ponto de prometer que vai fazê-lo, desconfie. Pois quando uma pessoa chega a ponto de fazer uma promessa é porque ela mesma não tem certeza da sua realização. Até porque, todas as promessas são filhas da dúvida e do improvável, seres que habitam no futuro.
Mas há muito adotamos a malfadada posição de escravos perante ela, pois a cada minuto a usamos sem a preocupação de cumpri-la, envolvidos que nos encontramos nesse mundo do ter e do parecer. Ironicamente, nesse rumo, parece que estamos descendo na escala evolutiva, aproximando-nos assim mais e mais dos animais. E simplesmente porque estamos utilizando mal o que nos faz superiores a eles.
Obs: Texto retirado do livro do autor – Surtos & Sustos
Imagem enviada pelo autor.