domingo, 5 de junho de 2011

O PREÇO DA VIDA


José de Alencar Godinho Guimarães (*)
jfdelvitoralencar@hotmail.com


Mais uma vez aconteceu, e logo no Pará. Chego a acreditar que isso virou banalidade pela tremenda impunidade e pelo fato do dinheiro sempre falar mais alto, inclusive mais alto que nossos gritos desesperados para que se tome alguma atitude política para salvarmos o que ainda resta da nossa floresta que sucumbi a cada dia e se vê desprotegida a cada companheiro morto. Companheiros mortos pela bala da impunidade e a pedido dessa classe social que tudo pode.

Nossa região mais uma vez se vê diante da barbárie. Tudo para que nossa floresta seja arrastada até os pátios abarrotados de madeira ilegal e lucrativa para poucos. Estamos de luto com as bocas amargas pela injustiça social que atinge o meio agrário paraense. Homens e mulheres que derramaram seu sangue para implorar por nossa floresta, mas parece que ninguém nos ouve e esse silêncio miserável é macabro como os disparos que nos procuram em meio à floresta e nos acertam sem nos dar chance de legítima defesa. Somos caçados feito bichos, sem nenhum pudor. Fazemos parte das listas humanas que anunciam a morte por encomenda e a polícia se queixa que não foi notificada. Uma pena, pois com isso nossos gritos vão ficando escassos em meio a esse monte de exageros praticados contra nossa floresta.

Imagino então um cortejo fúnebre com olhares de desilusão sucumbidos aos fatos reais onde se mata por ganância. Nossos companheiros carregados em direção a terra aberta que sugará nossos sonhos de liberdade e de justiça social. Homens e mulheres enterrando nossas vozes caboclas derrotadas pelas balas impunes daqueles que podem comprar até nossas vidas.

Até quando nossas autoridades fingirão que os problemas agrários e ambientais não existem na Amazônia? Terão que ver mais gente tombada ao chão como nossas árvores que nada podem fazer para se defender? Nossos gritos só querem alertá-los para os crimes que aqui acontecem todos os dias, só isso...

Entendo que não é pedir demais, não quero ver meus amigos e familiares engrossando essa lista de pessoas assassinadas só porque defendem nossa floresta e nosso povo amazônida.

Não permitam que gente inocente tenha que viver como foragido, driblando a força inescrupulosa de gente que explora nossa terra e vê em nossas falas uma ameaça em potencial para abalar seus impérios de dinheiro sujo.

Descansem em paz trabalhadores de Ipixuna, não permitiremos que suas mortes nos intimidem, pelo contrário, suas mortes só reforçam a necessidade de continuarmos defendendo nossa rica e frágil floresta. E que Deus nos proteja, pois nossa polícia e autoridades acenam ao longe em meio aos bandidos que saqueiam impunemente nosso chão.


(*) Professor da Rede Pública Municipal de Santarém
Graduado Pleno em Pedagogia pela UFPA