domingo, 12 de junho de 2011

FESTA PARA QUEM CRÊ NO AMOR


Marcelo Barros(*)


          Neste ano, no Brasil, enquanto o comércio e a sociedade recordam o “dia dos namorados”, Igrejas cristãs celebram neste próximo domingo, o último dos cinqüenta dias da festa da Páscoa (Pentecostes). Conforme a tradição cristã, neste dia, se espalhou pelo mundo o Espírito Divino. A comemoração do dia dos namorados é uma boa coincidência com esta festa pelo fato de que o Espírito se revelou como energia de amor.

          Uma sociedade que reduz as pessoas a peças de produção e de consumo não compreende a linguagem do amor, porque faz as pessoas sobreviverem na competitividade e na luta meramente egoística. Por outro lado, quanto mais uma realidade é preciosa e rara, mais são frágeis as palavras para expressá-la. Hoje em dia, o próprio termo “amor” parece reduzido a emoções rápidas e a experiências passageiras. Poucos crêem no amor como princípio e luz de toda a vida. E se o amor não é reconhecido além dos confins do consumismo e do imediatismo comercial, as pessoas passam a viver meramente em função do dinheiro, da busca ansiosa de poder, ou simplesmente do culto de si mesmo. Em um contexto assim, até os crentes esquecem que Deus é Amor e se manifesta em nós e no universo, nos divinizando à medida que nos torna mais capazes de amar. Martin Buber, grande espiritual judeu, dizia: “Os sentimentos moram no ser humano, mas é a pessoa que mora no seu amor”. Quando se descobre e se vive isso, aí sim o amor é casa e estrada de vida, enraizamento e transcendência. É a única energia que conduz a vida à sua plenitude.

          Camus dizia: “Não ser amado é uma falta de sorte, mas não amar chega a ser uma tragédia imensa”.

          Conforme a Bíblia, toda pessoa que ama vive uma experiência divina porque Deus é fonte de todo amor humano. Mesmo no meio das imperfeições e buscas afetivas, o Amor divino conduz a pessoa a formas de amar mais profundas e generosas. Desde o começo da Bíblia, Deus prometeu estabelecer uma presença no mundo e guiar as pessoas que se abrissem à sua inspiração. Revelou-se presente na criação fazendo de cada criatura viva um sinal do seu amor e de sua bênção para o universo. Manifestou-se como fonte de bênção no canto dos pássaros, no vento que faz sussurrar as palmeiras, no riso das crianças e em cada pessoa aberta ao Espírito. Em tempos mais antigos, deu vários sinais de que queria fazer uma aliança de amor com a humanidade e com todos os seres vivos do universo. Revelou-se plenamente presente na pessoa de Jesus de Nazaré, testemunha da ternura divina para com toda a humanidade. De acordo com a fé cristã, a partir da ressurreição de Jesus, o Espírito Divino foi dado a todas as criaturas. Um cântico de Pentecostes afirma: “Ele enche o universo, abarca toda a sabedoria e abraça todo ser que existe”. O texto mais conhecido sobre Pentecostes (At 2) diz que, quando o Espírito vem dá às pessoas que o recebem a capacidade de se comunicar com as mais diversas culturas e criar uma unidade onde antes só havia divisão e discórdia. Hoje, o Espírito Divino guia comunidades e pessoas de todas as religiões e mesmo sem nenhuma pertença institucional a se unirem em função da paz do mundo, da justiça e da defesa da natureza. Um documento do século II de nossa era dizia: “Se queres encontrar o Espírito, podes descobri-lo presente e atuante no murmúrio do vento, no pulsar de toda a natureza e até quando levantas uma pedra”. O Espírito nos confirma sempre que cada ser vivo é sinal da bênção original do amor divino que fecunda o universo. Na Idade Média, Ibn Arabi, místico islamita, afirmava: “Meu coração é como um pasto para gazelas. Acolhe todas as crenças. É a tábua da lei judaica e, ao mesmo tempo, o Corão sagrado dos islamitas. Meu coração se faz Igreja para os cristãos e tenda aberta aos que buscam. Creio acima de tudo na religião do amor”.


(*) Monge beneditino, teólogo e escritor.