Luiz Moura
(lmoura.pe@uol.com.br)
Há pouco mais de 60 anos, era sufocada a mais bela experiência comunitária ocorrida no Nordeste do Brasil. Não fracassou, foi sufocada. Teve fim a experiência, mas continua viva na memória dos poucos remanescentes, das pessoas idosas, de jovens e estudiosos ansiosos por dias melhores. Acabou-se a experiência, mas ficaram boas intuições para os dias de hoje.
Compreensão de que, no sindicato, nas Comunidades Eclesiais de Base – CEBs, na associação de moradores e nos mais variados movimentos populares, se processa a educação em seu sentido pleno.
Cada um desses movimentos pode também criar uma forma de escola que atenda a seus interesses particulares.
A escola necessária aos movimentos populares deve estar preocupada com o homem todo, inclusive com sua formação intelectual.
Os mestres não mais serão unicamente os diplomados, mas também quem, de uma forma ou de outra, domina com segurança qualquer tipo de conhecimento teórico ou prático.
Compreensão de que a escola formal contínua a ter seu valor e que as pessoas que tiveram tendência para essa forma de educação poderão ser encaminhadas para esse tipo de agência, desde que possam, posteriormente, servir a seu grupo.
A experiência educativa do Caldeirão deve-nos ensinar a levar em conta a pluralidade de culturas que GADOTTI (1993) chama de educação multicultural: a racionalização, muito própria do nosso mundo ocidental, levou o homem moderno a tragédias terríveis (governos ditatoriais, massacre de raças, corrupção generalizada, entre outras); é necessário afirmar o diferente, o atípico. É necessário quer o ser humano agora se volte e se devote a seu cotidiano, a seu mundo, às pequenas causas e às minorias.
A idéia pedagógica do Caldeirão deve-nos ensinar que é possível, não só uma forma paralela de educação, mas é possível também transformar a sistema vigente de educação.
Diferentemente da educação tradicional, a experiência educativa do Caldeirão deve-nos ensinar a valorizar a relação, o envolvimento, a solidariedade e autogestão. Os novos temas agora são: a alegria, o belo, a esperança, a igualdade, a equidade e a autonomia. Sem desvalorizar a cultura universal, a prioridade agora passa a ser a cultura regional.
GADOTTI (1993) assim pensa sobre autonomia como tema importante na pedagogia atual:
A escola autônoma significa escola curiosa, ousada, buscando dialogar com todas as culturas e concepções de mundo. Pluralismo não significa ecletismo, um conjunto amorfo de retalhos culturais. Pluralismo significa, sobretudo, diálogo com todas as culturas, a partir de uma cultura que se abre às demais e entendimento das especificidades como modos de manifestação e representação da mesma totalidade (GADOTTI).
Espero que o sistema formal de educação possa aprender as belas intuições deixadas pela vivência da comunidade do Caldeirão. Não é o caso de fazer nascer experiências semelhantes, mas fazer ressurgir seu espírito em meio a nossas instituições tão fechadas em si mesmas.