segunda-feira, 18 de abril de 2011

LINHAS TORTAS


Djanira Silva
djaniras@globo.com
http://blogdjanirasilva.blogspot.com/


Embarco dentro da alma nos suspiros da ventania.O corpo se abate nos sonhos. O mundo soluça. Será este meu derradeiro sonho? Será?
Amargo o desespero de sentimentos que correm como água ou sangue e escrevem histórias de faz de contas. Histórias que inventam outras histórias, da Carocinha, da Arca de Noé, da traição de Abel, das Tábuas da Lei. Invenções que obrigam o homem a andar para trás sem ensinar como.
Escrevo e esqueço a ordem do alfabeto. Os pensamentos se misturam em ondas de agonia.
Chaves trocadas. Portas invisíveis
Voltarei. Será este meu derradeiro arrependimento. Voltarei para dores que não conheço, para caminhos que não tracei para histórias que não escrevi. Minha primeira derrota será sobre meus passos, contradição por onde ando desde que comecei a nascer.
Saudade, saudade de um tempo escrito sem seqüência, nem coerência. Ando sobre as linhas tortas de um eletrocardiograma que dança a dança das horas, da morte, do tempo, do medo. Toques macabros monitorados pelas cordas desafinadas de uma viola que ameaça parar, de um samba que desce ladeiras nos pés de vento, de sonatas perdidas nas traições e paixões de amores desencantados por pitonisas envenenadas pelo olhar de medusa.
Desembarco fora da alma.
Ventos já não sopram. O sangue estancou no caminho da volta. Descanso na ilusão da calmaria.
Em cada folha caída o orvalho reflete uma cópia de mim.