D. Demétrio Valentini *
Neste ano a Campanha da Fraternidade coloca o planeta terra no centro de nossas atenções. Mesmo que a formulação do tema coloque a vida como primeira referência, na verdade o foco se dirige para o planeta, visto como fator indispensável para a vida, e olhado com apreensão, em decorrência da profunda dependência da vida em relação ao planeta terra.
Todos nos damos logo conta de quanto foi oportuna a decisão da Igreja em colocar este assunto como tema da Campanha da Fraternidade deste ano de 2011 – “A Vida no Planeta” - acompanhado de um lema tirado da Bíblia: “A criação geme em dores de parto!”.
Está posto o assunto, e lançado o alerta: o momento exige atenção e cuidado, para que se superem as apreensões, e se confirmem as esperanças de que o planeta terra continue cumprindo sua crucial função de garantir que a vida tenha condições de prosseguir, com sua dinâmica positiva.
O tema VIDA já tinha sido colocado em outras Campanhas. Pouco tempo atrás, as reflexões se centraram em torno da vida humana, ressaltando sua sacralidade, sua preciosidade, sua transcendência, e sua referência ética indispensável.
A Campanha deste ano, sem desmerecer estas referências próprias da vida humana, faz a singela mas decisiva constatação, de que não só a vida humana, mas todo o sistema vital que conhecemos, depende das condições que o planeta terra proporciona.
E´ bom viver, mas é importante descobrir e ressaltar os fatores que nos permitem viver! Podemos, então, nos dar conta da importância do planeta, como matriz dos sistemas vitais, profundamente interdependentes na sua complexidade, e fundamentais para tornar possível a vida humana, que será sempre nosso indispensável ponto de referência ao considerarmos a função vital do planeta.
Nossa vida participa das condições do planeta. Ela depende deste planeta. A terra é a nave espacial, onde todos os seres vivos embarcaram, com uma complexidade bem maior do que a imaginada pela arca de Noé.
Nossa vida depende da vida no planeta. Dito de maneira mais contundente, como alguns preferem, nossa vida depende da vida do planeta. Pois dada a íntima correlação entre os seres vivos e o planeta terra, o próprio planeta pode ser visto como um grande organismo vivo, que abriga e suscita todas as formas de vida nele existentes.
E´ salutar a consciência desta dependência em relação ao planeta. Assim somos levados a nos preocupar com suas funções vitais, e verificar em que condições elas se encontram.
Neste sentido, a Campanha deste ano apresenta dois sintomas preocupantes, através dos quais nos interrogamos sobre a situação vital do planeta. Trata-se do aquecimento global, e das mudanças climáticas.
E´ compreensível que o assunto seja abordado a partir de sintomas. Pois a vida é tão complexa, que não é fácil abordá-la diretamente. Como fazem os médicos com nosso organismo humano, ficam atentos aos possíveis sintomas apresentados, para discernir o estado de saúde em que o paciente se encontra. Assim somos chamados a fazer com este paciente todo especial, o planeta terra.
O primeiro sintoma é mais mensurável, e fácil de comprovar. A temperatura média do planeta está aumentando. Impressiona constatar a estabilidade das condições vitais oferecidas pelo planeta. Os cientistas se admiram, por exemplo, da dose adequada de oxigênio na atmosfera, na medida justa para possibilitar a vida. Assim a temperatura média vinha se mantendo estável ao longo de milênios. Mas a partir da revolução industrial, é inegável que começou a aumentar. Esta constatação, junto com o outro sintoma das mudanças climáticas, menos mensuráveis mas intuídas espontaneamente, levantam diversas interrogações, sobre suas causas e suas conseqüências.
A Campanha nos estimula a clarear estas interrogações, para situar melhor nossas responsabilidades.