segunda-feira, 21 de março de 2011

BIUTIFUL


Maria Inez do Espírito Santo
www.mariainezdoespiritosanto.com


Ele me diz: - Beleza!

E eu sei que o que ele quer dizer, nas entrelinhas, é que não estamos nos comunicando...

Volto a Biutiful – o filme – tradução exata desse – Beleza! com significado dúbio.

Que dificuldade de comentar um filme do qual saí tão comprometida com os argumentos.

- Beleza! Essa é a expressão enganosa da vida atual.

Biutiful é um filme que nos joga, na cara, o arremedo de vida que temos vindo vivendo.

Temos vindo vivendo... na própria forma de dizer, quase estrangeira, a dificuldade em determinar um tempo preciso para a vida, esta vida da realidade!

Biutifil é , sem dúvida um filme precioso, exatamente porque retrata nossa busca desesperada pra dar conta de um além da vida (dentro e fora dela) que é, ao mesmo tempo, o que mais tememos.

Fazer contato com a morte nada tem a ver com morrer, já preconizou Gilberto Gil, quando compôs: “Não tenho medo da morte, só tenho medo de morrer.”

Não tenho como negar que me assumo encurralada. Ela, a morte, esteve (continua lá) sempre na sala ao lado e vai chegando, sorrateira... Não temerosa, exatamente, mas desanimada de tentar recursos para esquecer essa presença próxima do inevitável, venho buscando, minuto a minuto, uma forma digna de confronto.

Biutiful fala disso . Não de dignidade. Antes, pelo contrário, trata da impossibilidade de manter a dignidade num mundo torpe e cuja envolvência nos destina a passar por cima do outro, mesmo quando julgamos amá-lo, mesmo quando gostaríamos de protegê-lo.

Biutiful oferece-nos uma janela em que podemos vislumbrar nosso avesso, nossa sombra, nossa impossibilidade de sermos dignos, mesmo quando nos esforçamos para dar o melhor de nós. E é, ao mesmo tempo um desafio desesperado a fazer de outra forma.

Beutiful é a tradução, sem maquiagem, da beleza ideal. É uma concepção estética da expressão – Beleza! quando ela quer dizer apenas um conformado e já gasto - OK!