domingo, 20 de fevereiro de 2011
A DOR DA LIBERDADE
Djanira Silva
djaniras@globo.com
http://blogdjanirasilva.blogspot.com/
Este é o grande momento, pensou a mulher. Seguiu o som dos suspiros, o barulho de folhas secas pisadas. Pensou, mais uma vez, é este o momento. Nas sombras, o som de suspiros, corpos repetiam movimentos embalados por desejos que enganam o tempo. Interrompeu seus passos. Parou no meio da escada a mesma por onde andara tantas vezes. A dor da liberdade ia com ela. Como um incêndio os sentimentos se alastraram. Seu coração bateu forte como sinos.
Quantas décadas decorreram desde então? Quem poderiam saber? No horizonte perdem-se os pensamentos inúteis. As chamas consomem as folhas secas que já não fazem barulho silenciam enquanto morrem. Lá fora o incêndio é extinto. E agora, resta brincar com as cinzas. Elas contam a história no toque dos sinos. Com um calafrio volta à realidade. Pensou ter visto pássaros ou seria um sonho? Continua a subir. A escada espera, sempre esperou. Um casal passa arrulhando. Olharam-na numa cumplicidade como se soubessem das mesmas coisas. Riu, lembrando de si mesma.
A mulher passou a mão no rosto enrugado. Só lhe restava chorar.
Obs: Texto retirado do livro da autora – A Morte Cega
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