segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

LINGUAJAR


José de Alencar Godinho Guimarães (*)
jfdelvitoralencar@hotmail.com


Ultimamente venho sofrendo com uma grande espinha atravessada na garganta e, veja bem, nem é uma espinha de Tucunaré ou Tambaqui, que nesta época estão protegidos pelo Defeso – ação do Governo Federal que proíbe a captura dessas espécies no período de reprodução. O que vem me atrapalhando as cordas vocais na verdade é a espinha dorsal da nossa gramática brasileira que insiste, pela postura dos gramatiqueiros e amantes da “boa fala”, em querer obrigar o povo brasileiro a se comunicar usando conectivos, gerúndios, particípios, substantivos, artigos, adjetivos...ufa...de conformidade com as normas gramaticais vigentes em nossa rica e variada Língua Portuguesa.

Eu até me esforço em falar gramaticalmente correto ou como eles – os gramatiqueiros – denominam de forma culta da comunicação, mas confesso que isso às vezes é chato e enfadonho, sem mencionar que entendo muito bem o linguajar popular e até já me acostumei com os “pobremas, estrupos, fragantes...”, e outras pérolas da nossa língua como eles denominam os “erros grosseiros de português”..

Mas fugindo ao “falar corretamente”, me delicio lendo Patativa do Assaré, Cora Coralina e tantos outros que escrevem como o povo fala, relatando uma realidade e cultura particular de um povo ou grupo social. Aliás, até concordo com os estudos da Língua Portuguesa quando o foco é justamente um estudo sócio-econômico e não para apontar o que é “certo ou errado falar”. Inclusive devo concordar com o Marcos Bagno – colunista da Revista Caros Amigos – que analisa a língua como ferramenta eficaz de comunicação, portanto o que importa é o entendimento no ato de falar.

A gramática é regra, é norma, e as regras foram feitas para serem quebradas. Vivemos a era da comunicação e uma era de reconstrução do velho modo de falar. Nesse caso, viva o Lula com sua simpatia lingüística que não esconde o operário e homem do povo que ele é. Viva a Dilma com sua invenção marqueteira de a “primeira presidenta”. E no caso dos dois, a mídia e os gramatiqueiros se referem como a personificação da ignorância pelos “erros” de linguagem.

Somos um povo rico em cultura, em esperança, em vontade de trabalhar para mudar esse quadro de pobreza desse belo País emergente, então nos deixem falar como quisermos ou como estamos habituados. “A gente podemos”, ora, para quem assim fala, “a gente” soa como mais de um, portanto plural, então nesse caso “a gente podemos” mesmo e que nossa gramática fique para os salões e convenções dessa gente metida a besta embebida por sua ignorância ao que se refere o termo comunicação popular; simples e fácil de ser entendida.


(*) Professor da Rede Pública Municipal de Santarém
Graduado Pleno em Pedagogia pela UFPA