terça-feira, 7 de dezembro de 2010
ESCOLHA
Maria Inez do Espírito Santo
www.mariainezdoespiritosanto.com
Aí eu fico pensando se tem saída.
Não tem.
Não me acerto mesmo com essa coisa de negociação.
Quero, da vida, o que é, simplesmente.
Quero cantarolar, sem me preocupar com a afinação,
dançar sem saber o passo
e gostar, sem embaraço.
Quero cuidar de ver o brilho do sol,
indo e vindo,
dia a dia,
por entre a cortina de crochê, que a minha mãe trançou,
sem se preocupar com a moda
que passa.
Quero o que fica,
sem promessa ou compromisso.
Quero conversar fiado,
e, até pagar, pra ficar calada,
se eu cansar das palavras vazias.
Quero que o silêncio,
me encontre tão em contentamento,
que seja o melhor som,
para o momento,
inadiável.
Vou, enfim, ouvir os pássaros e os grilos e os sapos,
sem precisar alertar, avisar, explicar, traduzir,
pra quem não vê.
E mais que tudo,
quero já não precisar querer tanto.
E tocar, enfim, com a ponta dos dedos
o texto invisível da minha vida
sem culpa, sem remorso, sem projetos,
só com os sonhos
que me ensinem de mim.
Depois de tanto tempo buscando
e cumprindo
e correspondendo,
acho que só desejo
não precisar caber
no vazio da foto.
Me perdoem.
Estou indo...
Tem um tanto de mim que já me espera lá,
faz tempo.
Minha velha mala azul quer ser o único continente
do que é suficiente.
E ela, com certeza, sempre soube de mim.
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