João Batista Pinto
(melopintoneto@uol.com.br)
Velha dama, velha dama,
Ouço-te orando ao teu Deus
Na grave cadência de um surdo.
“Queremos Deus,
Homens aflitos!”
Ouço-te também, velha dama,
Em exuberante alegria
Ao som de frenéticos tamborins.
“Carmelito, você foi ingrato
Fez de mim sapato,
Zombou da minha dor...”
Tua voz se transforma ainda
Em profundo e grave lamento,
Na agonia sonora da cuíca.
“Você roubou meu sossego,
Você roubou minha paz.”
Velha dama, velha dama,
Velha craúna fantástica,
Tua voz é como a voz do mundo,
Uma ária de solene violoncelo.
“Quem parte leva saudade
De alguém que fica
Chorando de dor...”
Velha dama, velha dama,
De eterna mocidade.
Eis-me em postura solene
A beijar as tuas mãos
De muitas vidas.