Odete Melo de Souza(*)
“Cessa tudo quanto a antiga musa canta...
À segunda-feira, 07/10/2002, pós-eleições, adaptam-se bem estas palavras do grande poeta português, Luis Vaz Camões.
Cessa o barulho ensurdecedor das propagandas, cessam os debates irreverentes, difamatórios, cessa a postura amável e até carinhosa dos candidatos com os eleitores, cessa a busca preocupante da promessa do voto, cessa a importância do material de propaganda, comprometendo a estética, limpeza e visibilidade das cidades e cujos gastos a quem oneraram? Pergunta-se.
Cessam ainda, esperamos, práticas fraudulentas, chegando à criminosa fabricação de uma urna eletrônica falsa, cessam os comícios e caminhadas arrastando multidões confiantes em um futuro melhor.
Cessam enfim, as esperanças da vitória de um mandato conquistado, de um cargo assumido...
Permanecem apenas os vencedores das urnas que nem sempre são os autênticos merecedores, aqueles eleitos e beneficiados com a primeira e maior arma do cidadão – O VOTO.
Cabendo aos mesmos dispensarem um tratamento elevado e humano aos tristes vencidos e não se envaidecerem mostrando-se idólatras do DEUS EGOÍSMO, considerando-se únicos, importantes, perfeitos.
Esperamos que os novos detentores do poder conscientizem-se de que esta realidade é temporária, pois, segundo Cícero, nada floresce eternamente.
Que eles procurem realmente corresponder à confiança dos seus concidadãos, trabalhando, agindo, aproveitando valores materiais e humanos e vivenciando, sobretudo, o ideal e o compromisso de SERVIR empenhado anteriormente durante toda a campanha.
Que os eleitos não se arvorem de salvador do povo, porque afirmou Millôr Fernandes: “povo que precisa de um salvador, não merece ser salvo.”
Respeito!... Muito respeito ao vencido!...
Sou daquelas pessoas que consideram a reputação dos infelizes derrotados, duplamente sagrada.
Primeiro: toda honestidade lhes é atribuída, pois o fracasso não é compatível com a fraude.
Segundo: a sua condição de inferioridade aplica-se: quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado.
Portanto, o vencedor jamais deverá desvalorizar o vencido, pensando sempre que “valorizar pessoas é um poderoso meio de aperfeiçoamento dos próprios valores”.
Enfim, vencidos e vencedores se dêem as mãos e num gesto de dignidade, otimismo, pureza e civismo caminhem juntos em busca da justiça e da verdade, do progresso e do AMOR de sua cidade, do seu Estado e do seu País, este grande e INVENCÍVEL BRASIL.
(*) Autora do livro - Retalhos do Coração.