domingo, 21 de novembro de 2010

TEMPO...TEMPO...TEMPO



Jacinta Dantas
jacintadantas@bol.com.br


Tempo de mais água na cidade onde as saídas estão ocupadas pela ignorância e prepotência de se fazer da rua a lixeira particular de cada um. Tempo de ficar quietinho, entocado entre as paredes; dois dias de gula e preguiça alternando com preguiça e gula. Ausento-me do mundo, sonho com um banquete, Meu Deus! E, eu, comendo o tempo nos espaços que me marcam. Que venha o sol oxigenar minha expressão cansada do tempo fechado, aprofundando a cicatriz que recebi na menina que fui, em constante ameaça de ir embora, antes do tempo, numa onda de infortúnios infantis. Quanto tempo de promessas de mãe para assegurar-me a vida! o sarampo já havia levado Maria de Fátima e Francisco, e eu, teimava em continuar – bem que o Franciscano avisou para não colocar esse nome na menina – mas, era promessa a N.Senhora de Fátima. A Lucia, a mais velha, crescia forte, como forte é, até hoje, na tranqüilidade e generosidade com que se aceita e leva a vida do melhor jeito que pode. E, voltando ao tempo, o dermatologista lança seu olhar botox sobre minha face e quer saber a quanto tempo carrego a marca que separa minhas grossas sobrancelhas. Ainda resisto a ele. Receio a artificialidade do sorriso em tempos perdidos que entopem o coração de expectativas – cárcere das emoções – aonde se escondem sentimentos que precisam se expandir em sorrisos, sorrisos que exercitem os músculos do diafragma, e me encha de fôlego para partilhar a alegria. Alegria de saber, um dia, que toda água faz seu curso normal, abençoando a terra, sem ficar represada no tempo dos que não veem retorno no investimento subterrâneo.


Obs: Imagem enviada pela autora.