terça-feira, 17 de agosto de 2010

‘WOMAN IS THE NIGER OF THE WORLD’



Dade Amorim
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            Quando John Lennon fez essa letra, sabia o que estava dizendo.
            Desigualdade por desigualdade, há uma estreita semelhança entre a limitação e o constrangimento impostos aos negros arrancados da África para servirem de escravos nas Américas e o tratamento discriminatório dado às mulheres durante os séculos em que se formava nossa famosa civilização ocidental cristã (e machista). Fora daqui, então, nem é bom falar.
            Não sou feminista xiíta, nunca queimei sutiã nem acho os homens desprezíveis. Ao contrário: por experiência própria, estou convencida de que um homem pode ser a melhor coisa do mundo para uma mulher. Mas os resquícios da mentalidade arcaica ainda se fazem sentir em nossa sociedade muito mais do que seria admissível a essa altura.
            O que é triste. Parece que a humanidade nunca vai se ver livre da figura imperial de um macho exercendo seu poder de origem obscuramente divina sobre os outros seres, todos propriedades suas, dependentes de sua boa ou má vontade e tementes de sua ira. Ainda hoje, muitos homens têm essa imagem como ideal de virilidade e força, não importa sua origem, cor ou posição na sociedade. Cada qual a seu modo, continuam controlando suas mulheres, negando-lhes uma vida própria, às vezes até se achando no direito de agredi-las (quantos!) ou tirar sua vida. A figura do assassinato como defesa da honra só caberia mesmo num aparato legal elaborado por e para os machos da espécie. E se essa figura saiu do corpo da lei, continua entranhada na mentalidade de tantos e tantos homens, muitas vezes ignorantes, mas em muitos casos letrados e donos de um diploma qualquer, o que não os impede de continuarem incapazes de refletir ou tirar conclusões sobre o significado de ser, não apenas um homem, mas um ser humano.


Obs: Imagem enviada pela autora ( retirada de
http://balletdepalavras.blogspot.com)