segunda-feira, 30 de agosto de 2010

SAI UMA REFORMA NA PRESSÃO

Dade Amorim
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          A gente aqui na pátria amada acaba encarando tudo que se repete com uma naturalidade assustadora. Crimes de qualquer tipo, a corrupção e a violência são coisas corriqueiras, meu deus do céu.
          Miséria, falta de escolas, vida de biscateiro, mulher que apanha e fica calada, crianças que passam o dia entregues a si mesmas porque o pai não está nem aí e a mãe diarista tem que ganhar o dia ou então vão passar fome. É difícil entender como pessoas que crescem e se tornam adultas vendo o mundo desse jeito conseguem se tornar gente de bem, e no entanto a maioria trabalha, luta, corre atrás. No caminho delas, por pior que tenha sido, deve ter havido alguém capaz de carinho.
          No item crianças, as coisas têm corrido muito mal também em famílias nem tão necessitadas. Não é dinheiro que falta. Faltam paciência e sensibilidade para educar, o que a escola sozinha, por melhor que seja, não consegue dar na medida certa. Quantas vezes faltam carinho, amor à cria. Criança atrapalha, precisa de tempo de convivência para experimentar coisas e se sentir protegida e segura, e nem sempre uma babá limpinha e bem paga resolve isso se não for supervisionada muito de perto.
          A educação continua na base do processo. É demorado, vai levar vinte anos pra dar resultado. Mas sem ela podemos desistir de melhorar. Nem daqui a cinquenta ou cem anos.
          Então esse primeiro passo tem que ser dado, mas não só. A parcela da sociedade que percebe o processo está aterrada e perplexa. Mas existem os que, mesmo informados e esclarecidos, optam por tirar vantagem da geléia geral e agravam a situação, porque não lhes interessa que a justiça funcione melhor ou que o combate ao crime seja eficaz; são os que vão perder vantagens inconfessáveis. Não interessa a essa gente implementar um bom sistema de educação para o povo, porque é mais vantajoso deixá-lo no lugar do cego em tiroteio, sem saber pensar, vendendo voto. Para eles a cadeia devia ser mais rigorosa, a pena mais longa. Surpreendentemente, não esquentam as poltronas em suas prisões especiais e comovem os juízes de um modo enternecedor.
          Os direitos humanos têm sido apontados como um texto risível, complacente com os criminosos e um empecilho para que se faça justiça. Talvez valha a pena rever esse texto com mais cuidado, refletir um pouco mais sobre o que está tão errado, se é o que a declaração diz ou o modo como tem sido interpretada e aplicada no Brasil. O texto é uma garantia para que não se saia por aí linchando e dilapidando suspeitos e acusados de práticas criminosas. Seria também uma garantia para o cidadão acima de qualquer suspeita, caso fosse cumprida de modo adequado e honesto. Infelizmente a declaração não só não é respeitada, nem mesmo pela polícia, como tem sido usada por advogados inescrupulosos para livrar a cara de réus endinheirados com ou sem colarnho.
          A cadeia e as casas para menores delinquentes são ótimas escolas de crime. Também vai ser demorado construir presídios decentes com espaços onde os presos possam exercer uma atividade útil. Alguém ouviu falar que construções desse tipo estejam em andamento? E enquanto elas não se concretizam, por que não usar a criatividade e ampliar o que já existe, ativar prédios públicos abandonados, inventar meios de atender a essa massa de gente sem misturar ladrões de manteiga com assassinos hediondos? Custa dinheiro? E os impostos, pra que é mesmo que têm servido?
          Não dá pra esquecer que as coisas estão todas ligadas, que as maiores, como o crime, e a grossura, a mão grande e a ignorância são elos de uma corrente que nem sempre leva o meliante à cadeia, mas sempre leva à morte de muita gente.