Rômulo José
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No momento em que o homem grego, vendo sua vida cada vez mais submetida às leis da “polis”, resolve criar um modo de expressar-se de forma individual, nasce à poesia lírica. Era uma poesia para ser cantada com acompanhamento musical, geralmente a lira. As mais importantes foram: a poesia mélica (de “melodia”), a poesia de coro e as elegias que glorificavam deuses e vencedores de jogos, assemelhando-se assim a poesia épica.
É na própria Grécia, com Platão e Aristóteles, que surgem os primeiros estudos sobre a poesia lírica ou mais precisamente sobre a poesia em geral. Para Platão, a poesia soma-se aos elementos do mundo vicário da imitação, pois nada mais é que uma imitação da imitação. No livro a República, Platão é o primeiro a tratar sobre uma teoria dos gêneros literários em que atribui à poesia função menor. Segundo a conceituação de poesia apresentada pela teoria dos gêneros, a poesia lírica seria o poema de primeira pessoa ou primeira voz. Já para Aristóteles, não somente a poesia como toda a arte e literatura definem-se como “artes miméticas” da realidade. Na sua Poética, que trata justamente dos meios e modos pelos quais essas artes são imitadas, além do modo de composição de cada uma, no entanto, Aristóteles não faz referências à poesia lírica. As ideias de Platão e Aristóteles assemelham-se no fato da dicotomia apresentada entre o discurso lógico da razão e o discurso alógico da poesia.
Mas a figura mais expressiva da poesia lírica grega foi à poetisa Safo. Sua poesia representava bem os elementos intrínsecos apresentados em primeira pessoa ou primeira voz. Era uma poesia de mulher para mulher. Deixando de lado os feitos heroicos para cantar os desfrutes amorosos de forma intensa.
Florescida na Grécia, a poesia lírica se expandiu ao mundo romano exercendo influencia sobre este. Só que em Roma, houve uma separação muito maior da que aconteceu na Grécia entre a poesia lírica e às instituições políticas e sociais e o emprego das palavras na construção de um mundo imaginário.
A construção desse gênero de poesia obedecia a leis próprias, intrínsecas a própria composição. Tais como ritmo dos versos, intensidade das silabas, versificação silábica. Tais aspectos quase que engessaram a forma livre e natural de acentos e pausas. Será a poesia provençal a dizer que a linguagem poética não pode amarrar-se a normas e preceitos formais ou gramaticais. No entanto, essa linguagem dos poetas provençais foi regulada pelos preceitos morais cristãs da época. Daí dizer que essa poesia lírica caracterizou-se como uma idealização amorosa. Idealização amorosa que se vê nas cantigas de amor de Portugal. Outra cantiga, descendente, foi a de amigo, em que o poeta assumia a personalidade feminina para cantar as saudades desta pelo amado.
Em cada momento histórico, a poesia lírica passou por novas conceituações. Eliot exemplifica o significado estabelecido pelo Oxford Dictionary, onde se lê, em lírico: “atualmente o poema que se dá a poemas curtos, geralmente divididos em estrofes, exprimindo diretamente os sentimentos e pensamentos do próprio poeta”. Edgar Allan Poe falou em brevidade; Coleridge em relações harmoniosas, métrica coerente; Wordsworth em espontaneidade; Hegel em subjetividade, emoção pessoal.
Obs: A PARTE II será postada no próximo dia 07