D.Edvaldo G. Amaral (*)
(dedvaldo@salesianosrec.org.br)
“Onde fica Ars?” – perguntou ao pequeno pastor Antonio Giyre, o sacerdote João Maria Vianney, que havia sido nomeado cura (isto é, quase-pároco) do pequeno vilarejo ao norte da cidade de Lyon, no sul da França. O rapazinho, que não entendia francês, nem o dialeto do padre, indicou-lhe com um gesto a direção de seu povoado. Vianney respondeu-lhe: ”Tu me mostraste o caminho de Ars e eu te ensinarei o caminho do céu.” Na verdade, o pequeno Giyre veio a falecer dias depois, assistido pelo santo cura. A cena do encontro está gravada num monumento de bronze à entrada de Ars, que Dom Valério Breda, bispo de Penedo, e eu, vimos no fim de maio passado, quando fomos em peregrinação à vila, que a santidade do cura João Maria tornou famosa no mundo inteiro.
O jovem Vianney teve muitas dificuldades nos estudos para ser admitido ao sacerdócio. O diretor do Seminário disse ao Vigário Geral de Lyon: “É uma lástima que não o possamos ordenar pela sua dificuldade nos estudos, sobretudo por causa do latim, mas é um modelo de piedade.” “Se é um modelo de piedade, então vamos ordená-lo e a graça de Deus fará o resto” – retrucou o Vigário Geral. Assim, a 9 de agosto de 1815, João Maria foi ordenado sacerdote, mas sem jurisdição para confessar, por ser julgado incapaz de dirigir consciências. Quem àquela altura poderia imaginar que Vianney se tornaria um dos mais famosos confessores, que a história da Igreja conhece? Passou três anos sob a direção de seu mestre e grande amigo Pe. Balley. Com o falecimento dele, foi designado para Ars como cura. Era então um pequenino povoado de duzentos e trinta habitantes, que viviam em casas cobertas de palha. A igreja ficava deserta, trabalhava-se no domingo e os bailes e cabarés eram frequentadíssimos. O santo cura passou a visitar as famílias e convidá-las para a igreja. Ficava o dia inteiro diante do Santíssimo Sacramento e começou a atrair o povo para o culto divino. Dentro de dez anos, Ars estava transformada. As tavernas ficaram vazias, o domingo respeitado e a igreja cheia de fiéis. Sua pobreza era extrema. Trajava uma batina surrada e suas refeições consistiam em algumas batatas cozidas. A santidade do santo cura de Ars passou a atrair multidões desde o ano de 1826. O número anual de peregrinos em 1835 superou os 80.000. Eram leigos e sacerdotes, bispos e até cardeais, sábios e ignorantes, que iam ajoelhar-se aos seus pés e pedir sua orientação. S. João Maria chegou a passar 12 horas por dia no confessionário. Com a saúde sempre precária, atribuía sua cura à intercessão de Santa Filomena, mártir.
Sua grande luta pastoral foi pela participação à Santa Missa e aos sacramentos da Igreja, a santificação do Dia do Senhor e a fuga dos bailes e bebedeiras nos cabarés e tavernas. Os meios empregados: sua santidade pessoal, evidenciada numa rigorosa penitência, nas intermináveis horas de oração diante do SS. Sacramento e seu zelo pela administração do Sacramento do perdão divino.
Ars é hoje um santo lugar da França, onde se reza pela santificação dos “padres de que a Igreja precisa” e se realizam cursos e encontros para santificação do clero de hoje.
(*) É arcebispo emérito de Maceió.
Obs: Imagem enviada pelo autor.