Um velho sentado à beira do caminho.
O olhar perdido naquela estrada, sempre naquela mesma estrada.
Todas as tardes o olhar triste esperando alguém passar naquela estrada. Um rosto novo, uma voz diferente, um rastro de vida no meio do caminho.
Talvez contasse incansavelmente o tempo da espera.
Ninguém jamais poderá saber o que aquele olhar deixava e esperava naquela estrada.
Horas a fio, sem pressa, sem agonia: espera, espera, silêncio, silêncio profundo.
Nenhuma palavra, nenhum murmúrio.
A espera não angustia.
Ninguém jamais conseguiu penetrar naquele olhar.
Ninguém foi capaz de perceber o fio que ligava aquele olhar à eternidade.
Era apenas um olhar.
Era apenas um velho.
Era apenas uma estrada vazia, em algum lugar do mundo dos homens.
(Caetés 05.12.2001)