Marcelo Barros(*)
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(irmarcelobarros@uol.com.br)
Como a cada dia, se tornam mais evidentes as conseqüências da crise ecológica, grande parte da humanidade tem voltado sua atenção para o cuidado com a sustentabilidade da vida no planeta. Uma das preocupações diárias é o que fazer com o lixo. Cada vez mais as pessoas aprendem a selecionar os elementos orgânicos e procurar diminuir os detritos que a natureza não pode absorver. Entretanto, muita gente não se dá conta de que a civilização capitalista não somente enche de lixo a terra, mas até o espaço celeste.
Na história recente da humanidade, 19 de julho é conhecido como o dia em que, pela primeira vez, o ser humano pisou na lua. Neste dia, em 1969, a televisão de todo o mundo mostrava os astronautas caminhando na superfície da lua. No ano seguinte, em pleno contexto da guerra fria, a União Soviética e a China intensificaram a corrida pela conquista do espaço. Atualmente, 40 anos depois, a humanidade já lançou na órbita da terra mais de seis mil satélites artificiais. Destes, 800 são ativos e todos os outros (5200) continuam no espaço como detritos que os construtores não conseguiram suprimir.
Além disso, conforme dados científicos, estão jogados na órbita da terra, mais de 12.000 pedaços de espaçonaves, restos de satélites espaciais e outros materiais que restaram de explosões provocadas pelo ser humano no espaço. Conforme um documento do DARPA (Defense Advanced Research Projects Agency), “desde 2007, aumentaram em 50% os detritos no espaço, provocados pela decisão do governo chinês de destruir um de seus satélites e pela colisão entre um satélite Iridium e um sistema de comunicação orbital russo” (revista Rocca, 01/ 12; 2009, p. 26). A mesma agência alerta que, além desse material de dimensões maiores, se calculam em mais de 110 mil objetos menores abandonados por estações espaciais e expedições humanas e estes detritos não se desintegram. Notem bem: 110 mil. É um lixo espacial, constituído por material metálico e muitas vezes radioativo, que voa a uma velocidade média de 28.000 quilômetros por hora. Ao entrar na atmosfera terrestre, quase sempre se incendeiam e podem ser extremamente perigosos, tanto se caem na superfície, como se chocam com aeronaves e outros veículos espaciais.
De acordo com a NASA, somente em 2008, caíram sobre a terra e em nossos mares, 743 destes objetos espaciais pequenos que provocaram incêndios na natureza, aumento da poluição de nossos mares e outros incidentes ao redor do mundo. Os dados de 2009 ainda não estão disponíveis. Cláudio Portelli, perito em detritos espaciais da ASI (Agência Espacial Italiana) declarou que um objeto do tamanho de uma pequena bola de tênis, solto no espaço sideral, ao cair na terra pode provocar um dano comparável à explosão de 25 barras de dinamite. Um choque com a superfície terrestre ou com algum objeto no espaço pode acontecer a uma velocidade calculada entre 36.000 e 52.000 quilômetros por hora.
Isso significa que, atualmente, a humanidade vive um grande risco, não somente com o lixo que é produzido na terra, mas também com o detrito deixado por suas experiências no espaço. E sobre isso há pouquíssimas informações. Mesmo programas como o da NASA para monitorar a presença de detritos no espaço mais próximo da terra e evitar colisões são projetos secretos e pouco acessíveis à sociedade civil.
Assim, mais uma vez, fica claro: a solução para a sustentabilidade da vida na terra e do universo que nos cerca não se resolve apenas com um maior cuidado com as conseqüências do rumo que a sociedade tomou nos últimos séculos. Isso é importante, mas não basta. Precisamos de uma transformação profunda da cultura e da compreensão que a humanidade tem de si mesma, assim como da relação com a natureza. Só assim poderemos viver uma mudança real de caminhos que nos salve do pior. No Evangelho, Jesus disse a seus conterrâneos: “Vocês olham o céu carregado de nuvens e sabem que vai chover. Por que não conseguem discernir os sinais dos tempos?”(Mt 16, 2- 3).
(*) Monge beneditino, teólogo e escritor.