Saulo Marden
(saulomardencosta.neves@gmail.com)
Por que lembramos tanto do passado, do tempo em que éramos crianças? Brincar, não trabalhar, depender de outros contribuem para sermos felizes? Não nos conformamos em ser adultos, em ser conscientes de tudo o que fazemos? Serão afirmativos os dois últimos questionamentos?
A criança só vê o possível. Na sua imaginação tudo é simples, tudo é possível, tudo é brincadeira. O excesso de proibição nessa fase da vida poderá levá-la precocemente à região desconhecida da adolescência. A compreensão das regras de conduta torna-se por demais questionadas. Os relacionamentos se complicam. As atitudes incoerentes com as regras da sociedade dificultam o entendimento, provocam rupturas no laço familiar, deixam sequelas, as vezes tão fortes que chegam a interferir no modo de ser e de pensar. As perdas das referências da infância e os ganhos da fase adulta entram em contradições: implodem, explodem. Mergulhados no seu mundo interior, negam crescer em sociedade. Sem medo se lançam nas aventuras cheias de armadilhas. A preocupação com as consequências, fora dos planos. Ultrapassar essa fase requer cuidado. O se afirmar como adulto sem as lembranças do amor recebido, sem os ensinamentos incorporados, facilita o aprendizado nas ruas. Torna-se vulnerável, facilita os caçadores que sem pressa, sem alarde oferecem vantagens, estimulam os apetites até sentirem-se donos da situação.
Passado o tempo das experiências, do conhecer novos caminhos, alguns, apenas alguns, conseguem se libertar. O trabalho para voltarem a realidade da vida torna-se insano. A única saída é enxergar e freiar os impulsos até se tornarem adultos com responsabilidades e discernimentos.
Quando o tempo passa e o pensar torna-se mais demorado do que o agir, o fôlego fica curto, dificulta o acompanhamento dos jovens. As lembranças se tornam alimento de vida. Nessas horas a que mais os fortalece são as da infância. Por isso é importante ressaltar: deixem as crianças se distraírem, sonharem. Brinquem com elas, sem pressão. Usem a boa vontade e a paciência de um pescador na pescaria dos filhos. Tragam para junto de si e no futuro entenderão o quanto foram saudaveis aqueles momentos.