Euza Noronha
Existem presentes que a gente ganha e que se tornam o centro da nossa vida. Filhos são assim. Presentes, esperados ou não, que são eternos em tudo. Para nós, mães, não existe um dia de filho. Todo dia é dia de amá-los incondicionalmente. Talvez seja este o único amor incondicional. Talvez seja este o único amor para o qual vale a pena brigar muito e sempre.
Rosa é minha amiga. Tem filhos que ama incondicionalmente. Um deles é seu presente mais especial. Não o ama mais do que aos outros, porque seria impossível mensurar o amor de uma mãe. Mas este filho fez dela uma mãe inteira. Por ele ela abriu mão de vários sonhos, abandonou vários projetos, readaptou a vida em torno de suas necessidades.
Rosa é feliz. A cada manhã ela agradece as forças do universo por ter aquele filho iluminando sua vida. Através dele ela vê o mundo. Seu olhar é brando, amoroso, tolerante. Ela aprendeu na lida com o filho que amar é não pré-conceituar, é não prejulgar, é não condenar. Amar é simplesmente amar.
Mas há noites em que Rosa chora. Rosa é humana e se cansa. Então chora como a menina que foi. Embala a noite num pranto sentido, calado, escondido. Lava-se das dores para renovar-se no sono. Rosa sabe que a manhã seguinte será mais um dia de brigar pelas injustiças, pelas discriminações, pelo direito de toda mãe ver respeitado o seu filho.
Rosa é uma mãe também especial. Eu a invejo, porque sou apenas mãe. Também choro pelos meus filhos, também me alegro com eles, também brigo por eles. Mas sou mãe diferente dela. De convergência, temos o amor. Amamos nossos filhos. Através deles, amamos o mundo. Porque mãe aprende a olhar com olhos de amor. E tende a ver o mundo sob lentes especiais, lentes de esperança.
Eu, Rosa e todas as mães não precisamos ser iguais. Não precisamos amar igual. Não precisamos ter um dia de mãe. Não precisamos ganhar presentes de filhos. Eles, os filhos, são nossos presentes naturais. Só precisamos de amor. Porque "amor com amor se paga".