Dannie Oliveira
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Não e novidade que todo final de semana eu fujo da cidade e vou para o planalto santareno. Esse domingo não foi diferente. Depois de enfiar a cara no travesseiro quando a mamãe me chamou às 07h00 (gritei sonolenta que era domingo, e dia de domingo é proibido acordar cedo,já basta a semana inteira), tive que levantar.
Pegamos a estrada ainda cedinho, no fim das contas foi até bom, o vento da manhã estava friozinho e dava até para sentir o cheiro de terra molhada por causa do orvalho da noite.
Mas eu vim aqui para falar do menino e da bicicleta.
Bom o menino era meu tio de 11 anos e a bicicleta era a dele.
Depois de varrer o quintal vi a magrela vermelha encostada numa árvore.
Acho que já fazia uns seis anos desde a última vez que eu andei em uma.
Varri o quintal rapidinho.
Eu encarava a bicicleta e ela me encarava.
Decidi me aproximar.
Quando me preparava para pegar a bicicleta, o guri empacou do meu lado.
- Tu sabes andar de bicicleta? – perguntou ele com um sorriso malicioso.
- Menino quando tu nem pensava em nascer eu já andava de bicicleta. Pro teu comando eu aprendi a andar quando tinha seis anos*. – respondi.
Ele se abriu na risada diante da minha resposta (na real acho que ele tava curtindo com a minha cara).
- Tá achando que eu vou cair é?
Ele continuou rindo.
- Se eu cair quem vai se machucar é eu não é tu. Se ralar vai ser em mim, viu.
Aí que o menino ria.
Saí empurrando a bicicleta para fora do quintal (o terreno é cheio de imperfeições, lá a queda poderia ser mais feia) e o pirralho atrás.
- Você vai lá para o asfalto é?
- Não sei.
Subi na bicicleta.
E o menino correndo atrás, subentendi que ele queria me aparar (Titio não levou em consideração que sou alguns centímetros mais alta e algumas gramas mais pesada do que ele)
Pensei comigo mesma ‘é agora que vou para o chão’, mas não fui.
Dentro de mim uma voz interior me dizia ‘ você está andando. Nossa! você está andando, você não caiu, eu consegui, eu consegui’.
Na hora de puxar os freios, cadê os freios?
Na falta dos automáticos foi o pé no chão mesmo. Parei num montinho de capim.
Fui entender que uma vez que você aprende a andar de bicicleta e para sempre, isso é uma coisa que nunca se esquece.
P.S: Quando eu tinha seis anos eu ganhei minha primeira bicicleta. Ela era azul royal com uns detalhes brancos. A primeira vez que sai pedalando sem as rodinhas quase cai dentro de uma bacia com roupas, sorte que a bacia era daquelas de borracha feita de pneu de caminhão (hoje já não se vende mais), eu bati e voltei automaticamente. Antes que a mamãe se desfizesse dela, eu ainda pedalei por muitos e muitos anos.
Obs: Imagem enviada pela autora (Foto: Lorena Castiglioni)