segunda-feira, 15 de março de 2010

CRENDICES



José de Alencar Godinho Guimarães*
jfdelvitoralencar@hotmail.com


Vixi minha Nossa Senhora,
Credo em cruz, Ave Maria,
Mas olha já quanta crendice
Dessa gente brasileira.

Criança com febre é quebranto,
Mal olhado em gente grande,
Mãe-do-mato é invisível,
Mãe D’água é cobra gigante.

Colher caída da mesa
É alguém que vai chegar,
Pio da coruja é agouro,
É a morte a se aproximar.

Caçador panema sofre
Não tem sorte esse coitado,
Embiara nem se aproxima,
Sente de longe o perigo.

Remédio pra panemice,
Tucupi com malagueta,
Alho é para espantar boto
Que mexe na malhadeira.

Peixe grande no anzol
É só puxar com tabaco,
O bicho logo se cansa
Vindo direto pro barco.

Pra agradar Curupira,
Cachaça, tabaco e espelho,
Caçada sem cisma nenhuma,
A bicha nem se aproxima.

Dor nos ossos é reumatismo,
Põe leite de Mururé,
Árvore gigante frondosa,
Esse povo tem muita fé.

Pai D’égua é coisa bacana,
Nosso jeito de falar,
Isso tudo que lhe mostro
É crendice popular.


(*) Professor da Rede Pública Municipal de Santarém
Graduado Pleno em Pedagogia pela UFPA