Pela primeira vez na história, um Presidente Brasileiro visita oficialmente Israel e os “Territórios Palestinos”. De fato, no auge da crise entre Israel e o seu mais tradicional aliado, os Estados Unidos, a imprensa internacional destacou nesta semana a conturbada visita do Presidente Lula a Israel, seguida da visita à “Autoridade Palestina”, concluindo-se com a visita à Jordânia.
Na verdade, esta visita se reveste de importância maior por outro capítulo, já anunciado, mas ainda por se efetivar, da visita de Lula ao Irã, no próximo mês de maio.
Não é de estranhar que a diplomacia brasileira tenha evitado a presença oficial de um Presidente a esta região cheia de complicações, resultantes da decisão das Nações Unidas, em 1948, de criar o Estado de Israel, em território cujas fronteiras nunca constituíram unanimidade, sobretudo para as populações árabes que o habitavam anteriormente.
Além dos fáceis melindres diplomáticos que sempre estão implicados em qualquer contato oficial com aquela região, a prometida visita de Lula ao Irã se constituiu no questionamento mais reiterado, apresentado por Israel, que instou o presidente brasileiro a desistir da pretensa mediação que Lula espera realizar em Teerã, na esperança de trazer aquele país à mesa de negociações pacíficas, em torno do seu projeto de desenvolvimento da energia atômica sem fins bélicos.
Diante da complexidade da questão, a imprensa brasileira apresentou a visita do Presidente Lula como inoportuna, e até indevida, como se o Brasil não tivesse nada a ver com a tensa situação que vem durando há décadas em todo o Oriente Médio.
Na verdade, o Brasil não pode se omitir de dar sua contribuição para uma solução justa e definitiva, que implique o reconhecimento tanto do Estado de Israel, como igualmente de um Estado Palestino, com a consolidação da paz em todo o Oriente Médio.
Existem inclusive laços históricos que ligam o Brasil com a realidade daquela região. Quando da decisão da ONU de criar o Estado de Israel, em 1948, o Secretário Geral das Nações Unidas era um brasileiro. Tratava-se de Oswaldo Aranha, gaúcho de Alegrete, que tinha sido Ministro do Exterior do Governo Vargas. Aliás, Israel ainda guarda, como preciosidade histórica, o martelo que Oswaldo Aranha usou para referendar o resultado da votação que decidiu pela criação do Estado de Israel.
O fato do primeiro Secretário Geral das Nações Unidas ter sido um brasileiro gerou uma praxe que se conserva ainda hoje. Todos os anos, por ocasião da abertura das sessões oficiais das Nações Unidas, o primeiro a discursar é sempre o representante do Brasil, sempre que possível o seu Presidente.
Por aí dá para dizer que o Brasil tem uma vocação inata para as questões mundiais, de maneira especial em decorrência daquela famosa decisão, de efeitos irreversíveis, que até hoje ainda não foram devidamente assimilados pela diplomacia internacional.
Acresce que o Brasil goza de simpatia, tanto por parte de árabes, como por parte de judeus, por motivos diversos, sobretudo pela acolhida que tanto uns como outros encontraram em território brasileiro na pessoa dos migrantes que para cá vieram em outras épocas. E´ surpreendente constatar como, no Brasil, tanto árabes como judeus se sentem em casa, sem nenhuma desavença entre eles.
Desta maneira, o Brasil tem, inequivocamente, uma mensagem de paz a transmitir, tanto a árabes como a judeus, e ampliando o leque, para todos os países do Oriente Médio.
O Presidente Lula procurou fazer sua parte. Mesmo que os resultados demorem, o caminho permanece aberto para um novo apelo à mesa de negociações. Lula sai deste episódio credenciado a instar o Irã a moderar seu tom, e a colocar sobre a mesa suas legítimas reivindicações de desarmamento regional, que precisa comprometer também a Israel, como conseqüência das garantias de respeito à soberania de todos os países envolvidos.
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