Zeca Paes Guedes
Há muito, muito tempo, numa terra de neve eterna, no alto das montanhas da Lapônia, vive cercado de elfos e duendes, um velhinho bonachão que é conhecido no mundo todo por vários nomes. Entre nós, brasileiros, ele é conhecido como Papai Noel. Sua casa fica dentro de uma floresta, cercada de pinheiros e a ela só têm acesso os animais que vivem por ali. Ele mora com sua esposa Mamãe Noel, os elfos que o auxiliam na mágica oficina de brinquedos e as nove renas voadoras que, uma vez ao ano, na noite de Natal, voam pelos céus mundo afora levando o velhinho para a já tradicional distribuição de brinquedos e doces. Essas renas mágicas se chamam Rodolfo, Corredora, Dançarina, Empinadora, Raposa, Cometa, Cupido, Trovão e Relâmpago. A rena Rodolfo tem o nariz vermelho e brilhante, pois é a que vai à frente das demais e serve de guia para as outras que a seguem. Ele voa em seu trenó repleto de brinquedos e vai levar esperança e alegria para todas as pessoas.
Dizem que ele presenteia as crianças que foram boazinhas e bem comportadas durante o ano e, como castigo, nada leva para as que foram malcriadas, malvadas, mal comportadas. Crianças do mundo todo escrevem cartinhas para ele contando suas façanhas e pedindo os presentes que desejam ganhar na noite de Natal. Os correios ficam abarrotados de correspondência para o bom velhinho que, de uma maneira mágica, recebe e lê todas ainda antes da data principal.
Ao longo dos tempos suas roupas de gala foram mudando, de acordo com as épocas e, na atualidade, ele se veste com um casaco vermelho com golas e punhos de pele artificial branquinha, calças também vermelhas e botas e cinto de courino preto. Ele é um bom velhinho, rechonchudo e muito alegre, com cabelos e barbas tão brancos como os arremates de suas roupas e, politicamente correto, jamais usaria peles e couro de animais.
Eu sempre acreditei no Papai Noel e, quando criança, não deixava de escrever uma cartinha para ele todos os anos e, depois, ficava esperando sua visita misteriosa na Noite de Natal para ver se meu desejo seria atendido. Geralmente ganhava os presentes que desejava e, por ter sido um bom menino e bom aluno durante o ano, ainda recebia outros como recompensa. Como em casa não havia chaminé, meus pais deixavam uma janela aberta para que ele entrasse quando todos estivessem dormindo e espalhasse, sob a árvore de natal, presentes para todos. E de manhãzinha, quando acordávamos, era uma explosão de alegria encontrar sob o pinheiro colorido uma porção de presentes embrulhados em papéis decorados e presos por fitas e laços coloridos.
Sua figura tem diversas origens, mas a mais conhecida é a do Arcebispo de Mira, na Turquia, Nicolau Taumaturgo, que viveu no século IV e costumava ajudar, anonimamente, quem estivesse em dificuldades financeiras, deixando na chaminé das casas, um saquinho com moedas de ouro. Mais tarde, na Alemanha, aconteceu a transformação do santo em um símbolo natalino. No entanto, apenas em 1822, um professor de literatura grega de Nova Iorque, escreveu o poema “Uma visita de São Nicolau” para seus seis filhos, onde pela primeira vez o bom velhinho viaja num trenó puxado por renas e visita os lares entrando pelas chaminés. Nessa época, muitas pessoas tinham o hábito de limpar as chaminés, para que a boa sorte entrasse em suas casas e ali permanecessem durante todo o novo ano. Mas na Lapônia, onde vive o Papai Noel, antigamente se vivia em pequenas tendas, cobertas com pele de rena, semelhantes a iglus e a única entrada para essas “casas” era um buraco existente no telhado.
Em 1886, o cartunista alemão Thomas Nast publicou na revista Harper’s Weeklys a figura do Papai Noel usando, pela primeira vez, suas roupas vermelhas com detalhes em branco e botas e cinto pretos. Até essa data ele apareceu de várias formas: com roupas de bispo, ou roupas de inverno na cor verde, como as usadas pelos lenhadores.
Apenas em 1931 a Coca-Cola realizou uma grande campanha publicitária vestindo-o com as roupas em vermelho e branco, como as do cartunista Nast, devido principalmente a serem as mesmas cores do rótulo. Essa campanha, destinada a promover o consumo da bebida durante o inverno alcançou enorme sucesso e, especialmente devido aos novos veículos de divulgação, a imagem espalhou-se rapidamente pelo mundo. E como é um velhinho extremamente simpático e bem humorado, acabou se confundindo com os símbolos do Natal. Mas a Coca-Cola não foi a responsável pela sua criação!
A figura do Papai Noel é bastante controversa e criticada por ser um símbolo do consumismo, do americanismo, da Coca Cola e outras coisas mais. Dizem também que sua figura acaba desviando a atenção das verdadeiras origens e propósitos do Natal. Também dizem que ele não visita as crianças da África, dos países orientais, muçulmanos, etc.. E nos países por ele visitados, não presenteia as crianças mais pobres e menos favorecidas. E por isso discrimina essas crianças.
Na verdade, poderíamos associar tudo a essas diferenças (religiões, crenças, usos e costumes, pobreza, etc.), mas como frutos do capitalismo, nascemos e nos tornamos adultos consumindo muito mais do que, na realidade, necessitaríamos para viver. A distribuição de renda é excludente e discriminatória. Somos “possuidores” por natureza. Possuímos casas, apartamentos, sítios, fazendas, casas de praia e/ou de campo, além de possuirmos automóveis, motocicletas, bicicletas, iates, barcos, ilhas e até aviões. E na verdade, não precisamos de tudo isso para vivermos! Também possuímos roupas, agasalhos, jóias e acessórios além das nossas necessidades. E o que poderíamos dizer dos nossos alimentos? Quantas pessoas poderíamos alimentar com aquilo que consumimos em nossos lares?
E bebemos vinhos, champanhe, refrigerantes, “Coca-Cola”, sucos e tantas outras coisas que os menos favorecidos, muitas vezes nem conhecem!
E também trocamos presentes! E gostamos disso! Não apenas no Natal, mas na Páscoa, no Dia das Crianças, no Dia dos Namorados, nos nossos aniversários e em tantas outras datas! Por quê, então, criticarmos as tradições natalinas? Elas servem, inclusive, para nos lembrar que, nessa data, se comemora o nascimento de Jesus! E tal data deve ser comemorada com amor, com alegria, com esperança! E, por que não com presentes? E por que excluir a figura rechonchuda, alegre e bem humorada do Papai Noel?
Resta a cada um de nós, em nossos momentos de recolhimento, meditar sobre a importância e a magnitude dessa data e tomarmos uma resolução: de agora em diante, espalhar para todos o verdadeiro espírito de Natal e levar aos menos favorecidos, não apenas nessa data, mas em todos os dias do ano, um pouco daquilo que torna nossas vidas mais confortáveis. Levar aos menos favorecidos um pouco de conforto e de compaixão e, com eles, dividirmos nossos alimentos, nossas roupas, nossas bebidas e nossa esperança de que o ser humano é, em essência, bondoso e sabe compartilhar com alegria tudo aquilo que Jesus, em Sua infinita bondade nos concedeu!
Obs: Imagens enviadas pelo autor.