segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

EU, RECIFE E O FUTEBOL

Vladimir Souza Carvalho *


          Mais do que frevo, Recife é futebol. O frevo fica armazenado nos cds, para explodir no carnaval. É marca específica de Pernambuco, exposta, nas semanas que antecedem o carnaval, na sala de desembarque dos passageiros, no aeroporto, por exemplo. Mas, o futebol é permanente, a exceção do período de férias dos atletas, e mesmo assim se anotam as contratações, já como sinal do foguetório que adiante vai explodir. A partir daí, é o campeonato pernambucano e os campeonatos nacionais que as equipes locais participam. E lá aparece, nos dias que se seguem ao dos jogos, o noticiário estampado na primeira página, de lances das partidas. Ou seja, é a primeira página que, ao abrir suas portas para o jogo realizado, mostra a importância do futebol local. E, se o jornal assim o faz é porque, naturalmente, o público prestigia tanto o time como o jornal.
          Evidentemente que tudo isso se escreve com os nomes do Náutico, Santa Cruz e Sport (por ordem alfabética), encontrando ressonância plena na torcida que, por seu turno, se torna freguesa das camisas dos três, camisas que se reproduzem em modelos vários, que o torcedor adquire e usa, e ao assim proceder, dá um colorido diferente as ruas e aos lugares onde se encontra, transmitindo, com a camisa, o seu amor ao clube, na adesão de um dos seus símbolos, seja qual for o modelo lançado.
          Se o frevo já me conquistava – eu, músico frustrado que toquei trompete sonhando com o saxofone, o que equivale a casar com uma e pensar em outra -, o entusiasmo do recifense pelo futebol, representado, claro, pelos três clubes, me contamina, como um veneno bom, ou um câncer benigno, que me deixa atento à manifestação do torcedor, a materializar na camisa, que veste, o seu amor ao clube. Recife do Náutico, do Santa Cruz, do Sport, cujas camisas também adquiro e presenteio meus filhos, para, lá fora, pousar de pernambucano. Mas, não só com a dos três, da Capital. Tenho também a do Central, Porto e do Petrolina, que também uso, levando, assim e sempre comigo, um pouco de Pernambuco.
          Uma vez, uma senhora me perguntou, afinal, qual meu time. Todos, respondi, ao que ela completou: então o senhor torce por Pernambuco. Acertou na mosca. E as referências que faço também atingiram meu filho mais velho, Helder, que, de Aracaju, quando, nas competições nacionais, os times de cá não se saem bem – que é uma exceção, ressalte-se -, me reclama que, por minha causa, fica triste quando os daqui perdem. Pois é. O vírus lhe atingiu também. Que bom, porque acima de tudo, o torcedor deve prestigiar o clube de sua terra, o que me lembra um diálogo que tive, em hotel na costa baiana, eu, com a camisa do Sport, que, na véspera tinha perdido para o Palmeiras, a receber uma piada, rebati que o meu crítico tinha razão: torcia pelo Palmeiras porque era paulista. Não era paulista, me explicou. E, eu, parafraseando o des. Francisco Cavalcanti, dei a facada letal: lá, em Recife, a gente só torce pelos times de casa.


Publicado no Diário de Pernambuco