Edilberto Sena *
Amanhã será aniversário de Jesus de Nazaré, 2 mil e 12 anos. É natal. Para os cristãos, uma grande festa religiosa, só igualada à festa da Páscoa da ressurreição, do mesmo Jesus Cristo. E para o mundo todo, hoje, com sete bilhões de seres humanos, onde apenas cerca de um bilhão e 300 milhões crêem que Jesus é Deus, o que pode significar o fato desse homem, chamado Emanuel, ter nascido numa cidadezinha perdida do Oriente Médio, hoje em guerra genocida?
Sua presença na terra mudou o mundo? Certamente que sim, pois a partir dele, a humanidade aprendeu que é possível alguém amar sem pedir troca, perdoar sem acompanhar com vingança. Para os Seguidores do Jesus de Nazaré, certamente a certeza é ainda maior, que a vida tem sentido e futuro. Que há um Deus que não castiga, por ser misericordioso.
Jesus nasceu em Belém, terra do pão, cresceu em Nazaré onde viveu até os trinta anos. Ali amadureceu sua vocação rebelde, ao descobrir que a vontade de Deus era ir além das regras e dogmas da religião oficial. Em três anos, inculturado a seu povo e seu tempo, falava em parábolas, linguagem popular, era bem entendido pelo povo simples. Amava os marginalizados, expulsava demônios e curava doentes, além de perdoar os pecadores.
Mas, rebelde que era, ficava indignado com as autoridades, chamava-as de víboras, hipócritas. Não suportava ver os doutores da lei enganando o povo, impondo leis falsas de salvação, criando ritos religiosos que não libertavam os humilhados. Herodes, Caifás, Saduceus, Fariseus, eram os sepulcros caiados, limpos por fora e podres por dentro. Pois bem, amanhã é aniversário deste Deus que aceitou se tornar ser humano igual a nós, menos no pecado, para poder revelar o real caminho de libertação de ontem, de hoje e do futuro.
Mas, que tal atualizar esta memória? E se Jesus decidisse nascer de novo e crescer, agora aqui na Amazônia, à beira de um rio, várzea, ou terra firme, como seria o comportamento de Jesus na Amazônia? Qual seria seu discurso e seu testemunho, ao ver o contínuo desmatamento com grandes fazendas, plantações de soja, e serrarias lotadas de toras de madeira? Como reagiria o mestre ao ver os planos de construção de 38 grandes barragens de rios para hidroelétricas, promovidos pelo governo federal?
Que diria ele ao saber que existem no Brasil 15 milhões de pessoas ricas, muito ricas e 50 milhões de pessoas vivendo na miséria literal? Vendo ele doenças epidêmicas como malária e dengue atingindo tantos pobres ribeirinhos, indígenas e pobres, vivendo em insalubres bairros de periferias? Ficaria Jesus indiferente?
Ficaria Ele preocupado apenas em salvar as almas? Ou seria um profeta mais indignado hoje do que foi na Palestina? Seria ele um Deus assistencialista, ou tomaria atitudes mais firmes diante do descaminho que segue a população da Amazônia? Essas indagações parecem obvias olhando seu comportamento nos três anos de missão pública na Palestina. No entanto, elas procedem porque, ao subir de volta para junto do Pai eterno ele disse a seus seguidores – “agora são vocês que darão testemunho de mim em todos os cantos do mundo”.
Então, ao celebrar amanhã o aniversário dele, seus seguidores não podem ficar apenas cantando o Noite Feliz, ou se comovendo diante do presépio. O mundo hoje, a Amazônia hoje, precisa de testemunhos fortes, rebeldes e coerentes com o mestre que é representado. Feliz Natal, mais uma vez!
* Pároco diocesano e coordenador da Rádio Rural AM de Santarém.