Jaime Sidônio
Acredito que cada pessoa é consciente quanto a esta verdade: tudo neste mundo é relativo. Há coisas de maior e de menor importância, coisas que duram e coisas que são passageiras. Há também aquelas que são primárias e outras que são secundárias. Todos nós entendemos que a sobremesa não pode vir antes para substituir o prato principal.
Um dia, depois que Jesus havia multiplicado os pães, muita gente o procurava e ele compreendeu que as pessoas o buscavam não por amor ou por causa dos sinais que havia realizado, mas porque comeram e ficaram saciadas, porque desejavam receber benefícios e, até satisfazer certa curiosidade. Afinal, por que não aproveitar? Diante disso, Jesus lhes interpelou: “trabalhai não pelo alimento que perece, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna” (Jo 6, 27). Noutras palavras, Jesus estava dizendo: “procurem, busquem o absoluto. Não se prendam ao relativo, àquilo que é passageiro”.
E o que é realmente o duradouro? - É claro que nesse caso Jesus está se referindo, com toda certeza, à importância da Eucaristia, mas, também a tudo aquilo que contribui para promover nosso relacionamento com Deus, no amor. Sabemos que nada, por menor que seja ou que pareça ser, é de pouca importância quando se refere ao amor. O que importa é levarmos a sério e nos empenharmos na busca de Deus. Só ele é absoluto, só ele permanece; tudo o mais é relativo, passageiro.
Quantas vezes nós invertemos as coisas! Num casamento, por exemplo, quanta coisa supérflua. Quantos enfeites, quanto luxo, quanta pompa, quanta vaidade, mas nenhum conteúdo interno, às vezes nem o consentimento que é essencial para que o matrimônio se realize. E os relacionamentos? - Alguns são meramente comerciais, de amizade não existe nem vestígio. E as relações entre os políticos? - Deus nos livre de tal.
Se tivermos consciência de que Deus é o absoluto, precisaremos também ter a coragem de aceitar isso com todas as consequências.
Todos nós rezamos, mas como é o nosso relacionamento com Deus? Dizemos acreditar em Deus, mas, temos realmente fome de Deus? Fazemos gestos parecidos com prática de caridade, mas amamos verdadeiramente as pessoas? E a nossa prática religiosa? Será que não depende demais dos nossos sentimentos? Quantas vezes por motivos banais colocamos Deus de lado, negando a verdadeira religião, na qual fomos batizados.
É preciso procurar aquilo que permanece, é preciso buscar o absoluto. “Buscai o Senhor enquanto pode ser achado; invocai-o enquanto está perto” (Is 55, 6). E só Deus é o absoluto.