Ronaldo Coelho Teixeira
Não sei se você já percebeu, mas a maioria de nós passa a vida inteira juntando coisas. E falo, não só das materiais, mas também de sentimentos mínimos, a exemplo do ódio, do rancor e da inveja, e que não nos acrescentam nada rumo à maravilhosa, mas sempre assustadora jornada em busca de si mesmo, que cada um deve empreender.
Se não, façamos um check-up agora mesmo. Comecemos pelo guarda-roupa onde geralmente existem tantas peças que há muito não usamos mais, mas que não as doamos para quem de fato necessita delas. Os calçados, nem se fala, são pares e pares que há muito mofam. Depois, vamos para a nossa biblioteca ou estante de livros, e perceberemos a enorme quantidade de volumes não lidos e que nunca leremos, mas que continuam lá apenas para que a nossa pose de intelectual não caia por terra. Em seguida, cheguemos até a despensa. Quantas quinquilharias e tranqueiras vamos encontrar, algumas que jamais utilizamos.
No aspecto cultural não é diferente. Grande parte das pessoas passa a vida inteira acumulando informações e conhecimentos, sem perceber que cultura é descriminação e não acúmulo.
Até nos relacionamentos amorosos estamos acostumados a meter os pés pelas mãos, desejando a todo custo obter, não só a pessoa amada, mas, principalmente, a posse dela. Enquanto que o Amor só se põe à prova realmente através da renúncia.
Nessa longa e louca corrida do acúmulo pelo acúmulo, esquecemos que a necessidade é que aponta a medida das coisas. E o mais fácil de se fazer – até porque está escancarado – é jogar a culpa no sistema sob o qual vivemos, o capitalismo. Posição simplesmente conformista e que não contribui para uma tomada de ação.
Mas geralmente chega um momento em que a gente percebe que tanta soma só nos faz inchar, e o que está inchado – como já foi dito – pode até parecer grande, mas não é sadio. Porque a totalidade a que Jung se referia só é obtida não quando não temos nada a acrescentar, mas quando não há mais nada a tirar. E então, só nos resta fazer o caminho inverso, ou seja, temos que começar a diminuir para somar.
Obs: Texto retirado do livro do autor – Surtos & Sustos