Djanira Silva
Janelas me olham.
Naquela manhã, mesmo chorando, consegui ver no jardim rosas e bogaris, resedás e verbenas. Levam-me de volta aos braços da minha infância, infância que sempre me recebe e me conta histórias para que eu possa enxergar as janelas.
Um silêncio dentro do outro. O sentimento desfiado tece finas teias ao redor do tempo. O invisível me prende nas tramas da saudade, da mágoa, da ausência e da solidão.
Lembrar me incomoda feito uma dor. A caminhada é longa e sem chegada ainda. Penso em ficar. Ficar para saber por que nos entregam caminhos que não pedimos. Estou cansada de buscar respostas.
O sol me acorda. Sacode-me no pesadelo de um novo dia.
Perfumes sutis como armadilhas me magoam.
Volto, volto para o jardim. Entro como sombra no olhar invasivo das janelas.